domingo, 25 de novembro de 2007

Toda uma década no centro da cidade

O final do terceiro ano do ensino médio significa que está encerrado um ciclo de onze anos de nossas vidas. Levando em consideração que só temos dezessete e que uma teoria de Freud (lê-se fróide, Orei) diz que boa parte das memórias dos primeiros anos de vida logo se perde, esse ciclo está fortemente presente naquilo que chamamos lembranças. Alguns de nós nunca mais se verão, o que não significa que perderemos todas as amizades que cultivamos, mas que há uma tendência a manter contato apenas com os que eram mais próximos.
Mesmo que mantenhamos contato, teremos perdido a convivência a qual nos acostumamos. Foram várias as manhãs e tardes, de segunda a sábado que passamos no centro da cidade. E, quando digo no centro da cidade, não significa que visitamos os tão diversos sebos da região ou gastamos nosso tempo na Livraria da Travessa. Nem foi assistindo a um bom filme no Odeon ou jantando na Cinelândia que passamos os onze anos. Não foram tantas as vezes que fomos à Lapa ou assistimos a um show no Circo Voador que justificasse tanto tempo por aqui. CCBB, CCC, Casa França-Brasil, Palácio, tantos são os centros culturais e cinemas que poderíamos ter visitado; mas não, a área em que passamos nossas infância e adolescência fica ao lado da Marinha, perto da Candelária.
Esses onze anos no centro do Rio de Janeiro foram todos passados no topo do Morro de São Bento, ao lado de um mosteiro homônimo, num colégio de ensino fundamental e médio. A rotina foi, sim, maçante, mas nos acostumamos e sentiremos falta. O futebol no recreio, o almoço no bandejão, as animadas tardes de quarta-feira com dois tempos do Osni, enfim, são várias as coisas que não voltarão nunca. Mas tudo bem, logo esqueceremos de tudo isso, pois, como dizem alguns, pelo menos na Universidade tem mulher.

Seis semanas que passam

-25/11/2007-Uma semana para acabar o que foi, no sentido figurado, o ano de 2007. Tendo começado no dia 3 de fevereiro, mesmo que tenha durado apenas 10 meses, não tenho dúvidas de que foi meu mais longo ano. E o mais intenso. E o com mais mudanças. Soa dramático, talvez, mas valeu a pena. Me esforçarei para que o ano que vem, que começa para mim na outra segunda-feira, seja ainda mais intenso. E do jeito que as coisas andam nesses últimos trinta dias principalmente, tudo indica que será. Feliz ano novo, mesmo que antecipado, mesmo que simbólico, a todos vocês.
-O texto acima, devo admitir, não é original. Como já disse, o tempo tem sido curto. Não pensem, no entanto, que foi jogado aí para preencher espaço. Planejava já postá-lo nessa altura do ano. Por quê? Basicamente porque quarta-feira terei minha última aula no colégio em que passei onze anos, o São Bento. Sim, ONZE anos.
Originalmente foi escrito por mim, utilizando-me do ater-ego de João Sebastião Baldo, para a última edição do folhetim O Malho, que escrevemos, os alunos da turma 31, sobre o colégio. Mesmo que fosse uma revista crítica, qualquer um que lesse entenderia que somos uns dos que mais sentirão saudades do São Bento. Uma saudade hipócrita, é verdade. Mas ainda assim uma saudade.
Fica também como resposta para todos aqueles que me perguntaram, e sei que continuarão perguntando, a mesma coisa por tantos anos. Como é estudar no São Bento? Difícil de explicar; é tudo que tenho a dizer.

sábado, 24 de novembro de 2007

24 de Novembro de 2007

Não sei porque demorei tanto, – talvez pelo simbolismo do número 7, talvez uma hesitação puramente medrosa – mas resolvi escrever-te. Gostarias que soubesse que estou bem; que ainda tenho teu sorriso, teus olhos, teus trejeitos, tuas palavras e piadas, e teu nariz (e mamãe ainda me inveja por isso); que estou à beira de entrar na faculdade, mas continuo tua menina dos olhos, a caçula;
Desde aquele dia 25, o mundo mudou de forma drástica, nunca achei que iria agüentar a guinada – e de fato, não sei como agüentei. Incrível como me arrancou do meu mundinho e me mostrou que meus problemas eram insignificantes, minhas pirraças e discussões, supérfluas. Da minha inexperiência, pude ver que o universo é maior que eu esperava.
Espero ter sido a filha que sonhaste, com a vida que pediste a Deus, algo que valesse o sacrifício. Espero que esteja bem, com tudo que mereces e quiseres à disposição. Espero que agora se orgulhes de mim, pelos passos que dei, pela pessoa que me tornei. Espero que esteja cuidando de mim – de nós, na verdade – com teu pensamento, com sempre fazes.
Por fim, espero ainda ver teus olhos azuis e teu sorriso quando te perguntar se ainda sabes meu nome.

24 de Novembro de 2001

Uma rosa, nesse dia
Tão fraco, porém tão belo
Fruto da vil covardia,
Pelo que quebrou o elo

A rosa, desabrochada
Detalhe da mancha anil
Novembro vestido de Abril
Minha chaga escancarada

A rosa pelo meu mundo
Triste, trágico; e torto
Um pesadelo profundo
Que tirou todo conforto

A rosa murcha e partida
Deixo aqui, com minha vida

Genial! Ou não... (4ª edição)

Não sei se é surpresa para muitos eu estar postando aqui hoje, mas faço-o por um motivo nobre – uma coroa de louros merecida. Hoje, me restrinjo nesses meus pensamentos terrenos e volúveis, vou poupá-los disso; hoje é um dia demasiado especial.

Frase da semana: "Needed elsewhere, to remain us of the shortness of our kind"
(T. Holopainen, Nightwish; Angels Fall First)

Minha única recomendação da semana é um poeminha de Casimiro de Abreu, chamado "Segredos", que é um dos poemas mais bonitinhos que já li na minha nada longa vida.

Voltarei a postar na quinta na semana que vem, então até lá

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Possíveis explicações para a pós-vida

A pergunta é: O que será que acontece depois da morte? Todos a fazem, seja um pedreiro, seja um filósofo. Eu, particularmente, a faço antes de dormir, dedico uma boa parte daquele precioso tempo pensando no que vai me acontecer, mas esquecer de pensar em coisas que podem me acontecer em vida e que não vem ao caso agora...
Bom, depois de várias noites, três caminhos surgiram para mim. O primeiro me levou até o paraíso de alguma religião, qualquer religião, a idéia era de um lugar "perfeito", um vasto campo, com muitas árvores e pessoas de branco que caminhavam. Acho que fiquei com essa imagem formada na cabeça depois de ver uma novela da Globo, mas o que, na verdade, importa é que naquele lugar não existiam banheiros e as pessoas simplesmente andavam, por toda a eternidade, enquanto ouviam uma voz do alto, supostamente de Deus, que dizia coisas bonitas. Resumindo, um caminho direto para o tédio, sem vídeo-games, futebol ou comidas gordurosas, um mundo onde as angiospermas também reinavam.
Sem pensar muito, fui na direção do segundo caminho, quando me dei conto do que se tratava, tive uma grande a surpresa: Era o próprio vazio, o nada. Lá as pessoas simplesmente deixavam de existir, não lembrariam de tudo o que fizeram enquanto estavam na Terra, não lembrariam dos amores, nem das guerras, nem das aulas de química. Coloquei-me a pensar e vi que aquela situação não era nada justa, seriam anos jogados no lixo, e olha que eu até aceitaria esquecer os amores e muito mais as guerras, mas as aulas de química... Não perdi um ano inteiro para decorar que o anôdo é negativo na pilha e positivo na eletrólise à toa, não mesmo.
Foi aí então que corri para o terceiro caminho, esse parecia ser o mais o real e cruel ao mesmo tempo, nele descobri que a vida não passava de um grande Big Brother alienígena, fiquei envergonhado ao saber que todas as coisas que tinha feito só por achar que estava sozinho tinham sido observadas por alienígenas de todas as galáxias. Fiquei sabendo também que eu era só mais um robô e que logo, logo, seria encaminhado para aquele segundo caminho, o do vazio. Senti-me como Jim Carrey se sentiria se não recebesse um bom cachê por "O Show de Truman".
Agora percebo que estou vivo e que todos essas possíveis explicações para a pós-vida não passam de hipóteses, e mesmo que alguma delas seja a certa, todas me assustam. Não consigo imaginar o fim, nem a eternidade, nem o antes, nem o depois da vida. Dizem por aí que " A curiosidade matou o gato" e eu posso dizer que continuarei curioso para saber o que acontece com o pobre do gato.
Felipe Areias (do Blog Manifesto Metalúrgico)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Depois de duas semanas...

Depois de bastante tempo sem ver e ler meus amigos do Hipóbole, cá eu estou eu. Por motivos que vcs já sabem...provas de pré-vestibulares, provas do colégio e do técnico e trabalhos. Coisas que nos fazem deixar de viver para vegetar. Mas como eu disse a Luiza, luto bravamente pra não ser inundada na tal "responsabilidade". Deixo a vcs um texto que já estava pra ser feito há um bom tempo...saiu de um "ir à padaria ao domingo com minha mãe". E claro, peço permissão ao Kendo para postar em seu dia...Mas acho q ele não vai se importar tanto. Enfim...sem mais delongas, deixo o meu texto.
E o vida longa ao hipóbole!

Uma conversa a um...

Ele está sempre lá. Todos os domingos, religiosamente com sua bolsa cinza, ás 2 da tarde ele chega e senta no banquinho da praça. Parece calmo, mas entretido, viaja num pensamento profundo, que quem passa nem imagina os seus motivos.
Solidão a dois...Solidão a um...Solidão a si...Ele fica diante de uma árvore e o vento leve parece embalá-lo. Nesse momento qualquer tipo de cumplicidade é válido. Qualquer “respirar” do mundo já faz um domingo de alguém que como ele, se isola pra poder ouvir a si mesmo.
Um domingo de um estranho. De alguém que não conheço, mas está como se alguém o convidasse a conversar na pracinha perto de minha casa. Nada demais lá, além de bancos, mesinhas para jogadores de damas ou xadrez, algumas pedras no chão, as quais não podemos deixar de pisar até chegar de fato á praça. A praça é sem nome. Mas pra que nome, quando cada ser que existe nela já lhe dá o próprio sentido?Formigas, pássaros, borboletas, as árvores, gatos e ele.
Crianças brincam de vez em quando lá. São poucas as vezes que vejo uma. Geralmente estão com sua mãe (e claro) não desgrudam do balanço. Outras, com mais senso de peraltice, se aventuram na areia e nas pedras. Fazem casinhas e usam as pedras como personagens. Já terceiras preferem lidar com aquilo que é mais próximo a si, não abrem mão da vida dos outros. Correm atrás de borboletas e deixam formigas desordenadas com apenas um palitinho de sorvete. Pobres formigas!
Ele observa. Vai absorvendo tudo. Quem sabe o que fará quando chegar em casa? Terá uma mulher que o afague e lhe diga que o lanche das cinco está pronto? Ou um cão que o umedeça de carinho? Ou sentará em frente à televisão desligada e ficará a pensar? Pode ser que talvez não tenha móveis, eletrodomésticos e que o domingo na praça seja o seu cinema, sua novela, seu teatro ou sua música de Jobim. Quem sabe?...

domingo, 18 de novembro de 2007

Cinco semanas que passam

Pois é, como a Luíza disse em seu post de quinta-feira, essa semana foi foda.
Em ambos os sentidos.

Passamos a semana no tal do Onu jr.

Nenhum texto essa semana?
Pois é.

Quase que dedicação completa ao evento; e ainda caiu no período do final do vestibular.

Semana que vem volto a publicar um texto de verdade.

Até!

Obs: Uma pena que o quinquagésimo post tenha sido assim.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Moscou, 15 de dezembro de 1958

Desculpem-me, caros senhores leitores, mas por motivos de crise, não postarei nada além desse mísero texto que produzi no fim de semana. Nada mesmo.

Engraçado como as expectativas mudam um olhar. Fiz, hoje, domingo 11, assim como metade do Rio de Janeiro, mais uma prova de vestibular, longa e enfadonha. Acordei com sono pendente, parcialmente irritada com o mundo, fiz aquele famoso check-up, tomei um copo de leite e fui.
Para ser sincera, nunca objetivei a UFRJ, o pensamento sequer cruzara minha cabeça – nem em delírios profundos. Qual não foi minha surpresa em constatar a mudança radical do meu ponto de vista ao cruzar os gloriosos portões do campus da Praia Vermelha.
Prédios altos e majestosos marcavam a melhor da arquitetura neo-colonial, romanceados pelo jardim cuidadosamente mal cuidado, com aquela personalidade rebelde. O cenário remetia-me aos tempos da Rua de Matacavalos, o sobrado de Carolina – cave canem.
O mundo de sépia e da nostalgia, porém, passou ao Realismo mais que rapidamente quando entrei num dos prédios – a faculdade de educação, por mais irônico que isso soe. Por mais que o véu da antigüidade estivesse me seduzindo, não pude deixar de notar os maus tratos desmerecidos do local e sua adaptação grosseira ao século XX – lâmpadas fluorescentes esdrúxulas e meio quadro branco mal apagado, alem das decadentes carteiras de madeira podre.
A fascinação se fora; amaldiçoei o poder público pela heresia.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Memórias Póstumas da Presa Fácil

Estava em um clube do centro. Ouvia os ruídos em volta, sentia o forte odor de bebida misturado com fedor de colônias baratas. Ria das piadas infames e me divertia na mesa de sinuca. As luzes indiretas e a fumaça dos cigarros davam um ar noir ao bar. Era uma noite como qualquer outra.
De longe, avistei uma mulher de longos olhares que assoprava a fumaça lentamente. Tinha cabelos negros de brilho azulado, pele de cor marfim colorida e olhos de colorido roxo. Tentadora. Encarava-me como um predador que olhava para sua presa. Tentadora. Como uma mosca que se aproxima da luz, dirigi-me até ela inconscientemente. Simplesmente me atraía. Quando me dei conta, já estava soltando qualquer cantada e risadas fáceis. Mas não conseguia escutar uma palavra que dissesse. Apenas me concentrava nos lábios que tão carinhosamente buscavam o cigarro e no som abafado da música. Ofereci um drink que, nem um pouco surpreendentemente, aceitou. Podia ver o brilho em seu olhar, o sorriso decorando seu rosto, a procura pela satisfação. Sabia que já era jogo ganho. Essa seria uma noite como qualquer outra.
Convidei-a para dançar e não tardou para estarmos aos beijos. Quando beijava, beijava com força e com raiva. Como se fosse me comer. Podia sentia o calor de nossos corpos abraçados. Beijava-me como se fosse me engolir. Sua boca tinha gosto de tabaco, mas suas mãos eram finas e delicadas. Os dedos longos traçavam seu caminho na superfície do meu rosto e no emaranhado de meus cabelos. Sabia que era jogo ganho e levei-a para o motel.
No caminho, resolvi tomar o controle. Cada centímetro de pele exposta me dava uma sensação de fervor. Não podia parar de notar no seu decote, que tão facilmente chegava ao alcance de meus olhos. Enquanto dirigia, entoava palavras e histórias que a divertia. Nunca tive dificuldades com mulheres. Dê-lhes o luxo da beleza, faça-as achar que possuem a vantagem do controle, inebrie-as com a desinibição do álcool e domine-as com o prazer do sexo. Incomodava-me, somente, as infindáveis tragadas. Não pelo cigarro em si – não, não possuía nenhum efeito em mim-, mas pelo molde que dava aos seus lábios. Disse que não me importaria mais tarde enquanto subia sua mão vagarosamente pela minha coxa. O efeito foi imediato: podia sentir o fervor nas partes mais íntimas e o desejo na flor da pele.
Quando chegamos, impressionou-me a ferocidade com a qual me despia. Seu corpo não passava de um vulto na escuridão. Tocava-a, mas não a sentia. Sua superfície estava molhada de suor frio. Seus gestos eram ensaiados e frios. Mas seu corpo expelia um calor tão intenso. Depois, os beijos viraram mordidas e os toques, arranhões. Se antes se movimentava brutalmente, como um animal que se soltara de sua jaula, depois passava a mover-se lentamente na velocidade de suas tragadas. Se em determinado momento parecia calculista e caprichosa, no outro, soltava faíscas pelos olhos raivosos. Virara uma dança, onde mudávamos de posição como quem muda de ritmo. Ela conduzia e eu fazia meu melhor para acompanhá-la. Transformou-me em um virgem, usou-me como bem lhe entendeu para somente gozar do meu prazer. Arrancou em cada suspiro e em cada gemido todas as minhas energias. Extasiado, fui dormir.
Acordei com um clique. De pé, já vestida com seu longo sobretudo e luvas pretas, dava as costas para mim. Podia sentir sua respiração pesada. Levantou a cabeça enquanto preparava a arma. Puxou seus cabelos para trás e olhou-me pelo canto do olho. Seu sorriso era inexplicável. Sua expressão era orgástica e seu olhar passou a ser gélido. Era uma besta feroz. Uma besta de calibre e silenciador. O cano negro de sua arma arrancou toda a cor do meu rosto. Já não conseguia mais pensar. Fui tomado por um desespero e por uma sensação de impotência desumana. Era a carniça e só agora tinha tomado consciência disso. Fui vítima de uma deusa com fetiches macabros. Femme Fatale. Implorava pela minha vida enquanto me acuava como um cachorro assustado.
De repente, o estouro abafado. Não houve túnel. Não houve luz. Nem céu nem inferno. Havia somente nós três: eu, o monstro e a minha insignificância.

Clarissa Maria, do blog Testículos Literários

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Metafísico

Ainda hei de entender
Esse negócio de Karma
Fundação milenar
Que Kant facilmente desarma
Como algo tão subjetivo
Como os conceitos do bem e do mal
Pode trazer resultado tão objetivo
Doença, falência, acidente fatal
Para quem não conhece
Irei explicar, acompanhe:
Se você faz algo bom
Algo que a sociedade considere de bom tom
Receberá os frutos, aos montes
Se fizer algo ruim
Roubar, matar, julgar, enfim
Pagará na carne, tudo o que fizera antes
Provavelmente essa idéia foi criada
Por um jovem hindu, de cabeça meditada
Achou tão genial, a iluminação que havia tido
Que na idéia não viu o real sentido
O que o jovem hindu não sabia, e agora vou explicar
É como Immanuel Kant, jogou seu conceito pro ar
Que pobre do garoto que não enxergou o fato
De que toda moeda, tem seu outro lado
O homem divide igualmente, seu último alimento com a família
Condenar tal ação, seria tamanha heresia
Talvez um e somente um homem possa condená-la
O padeiro, que reclamando do pão roubado
Pela situação comovente não se abala
Você pode tentar defender, o pai ladrão de pão
’’Ele roubou por necessidade o que vale é a intenção’’
Bela frase, mas rebato sem receio:
’’De boa intenção o inferno tá cheio’’
Idéia cruel, mas veja por outro lado
Afinal as más ações também tem seu valor
Um homem avança o sinal, e mata o outro achatado
A ação parece errada, se não fosse por um fator
O atropelado poderia ser um agiota
Que da família daquele ladrão
Havia extorquido, roubado, fizera a todos de idiota
Algo que respeito, creio com total razão
É a idéia de Kant, e sua ética universal
Desbancou com categoria, Aristóteles e Platão
Julgando a vida muito além do bem e do mal.

domingo, 11 de novembro de 2007

Descoberta

Foi quando fechei o livro
E olhei pela janela
Que entendi a poesia.

Se o Vaticano tem um, o Hipóbole também pode

Caso você preste atenção aos blogs que freqüenta, é provável que tenha notado a aparição de um desenho no canto superior esquerdo de nossa página. Um escudo para ser mais exato; nosso escudo. Mas para que um blog precisaria de um brasão se ele não é um Estado soberano que emite documentos oficiais, você deve estar se perguntando. Bom, pra nada exatamente, mas isso não importa. O que importa é que nós temos um escudo com um lema, dois mascotes, um capacete e tudo a que temos direito.
Como éramos dois os idealizadores e a Luíza é quem desenha melhor, ficou comigo a tarefa de explicar o símbolo. Parafraseando a primeira postagem do blog: ela desenhou, eu explico. Parece justo...
O processo criativo foi bastante simples. Primeiro, resolvemos que precisávamos de um símbolo. Em seguida, deparamo-nos com o brasão búlgaro (longa história!). Ao perceber que era aquilo que queríamos para o Hipóbole, entramos no Wikipédia e procuramos por “Coat of Arms”. Na página sobre o assunto havia um desenho, no estilo você também pode ter um escudo, a partir do qual discutimos, uma a uma, cada característica do desenho.
O desenho propriamente dito leva as cores que já caracterizavam o Hipóbole Conjugada, o azul escuro e o claro. Dentro dele, é possível encontrar um trocadilho matemático que não merece ser explicado por duas razões básicas: a)ele é sem graça e b)ele é matemático.
Precisávamos também escolher os dois animais que suportariam o emblema, então aproveitamo-nos para apresentar nossos dois mascotes: Hipo e Bole; Hipo, o ornitorrinco, e Bole, o Hipopótamo. O primeiro, também conhecido como grande piada de deus, representa nossa veia surrealista, enquanto o segundo, um cara gordinho e simpático, não é símbolo de nada, mas foi escolhido por a)ser gordinho e b)ser simpático.
O passo seguinte era escolher um lema. Para soar bem esnobe, resolvemos que ele estaria em Latim. Houve um problema nesse ponto; não sabemos latim. Uma vez mais, a solução estava no Wikipédia. Digitamos “citações em latim” e escolhemos a que melhor nos representava. Nil est dictus facilus- nada mais fácil do que falar. Perfeito! Essa era mesmo a idéia do blog, ao menos na concepção de nós dois.
Ficava faltando a parte de cima do desenho. Teríamos que escolher a galhada e um capacete. Quanto ao primeiro, não havia como inovar muito, então desenhamos uma galhada. Em relação ao segundo, escolhemos o do exército prussiano, que representa a obediência quase militar do núcleo parnasiano às regras.Estava, enfim, pronto o símbolo. Ou quase, pois faltava passá-lo para o computador e trabalhá-lo no Photoshop. Em relação à arte-final, não tenho muito a dizer, uma vez que foi a Luíza quem passou horas no computador enquanto eu escrevia um texto de quinze minutos. Como já disse, parece justo.

Quatro semanas que passam

_Ontem foi aniversário do Vitor (sim, vou chamá-lo assim) e, como sou o dos que aqui escrevem que há mais tempo o conhece, resolvi escrever um pouco sobre ele que, mesmo que a franja e as espinhas disfarcem, atingiu a maioridade (antes de mim!). Conhecemo-nos na oitava série, mesmo tendo estudado no mesmo colégio desde a primeira (hum, não foi ano do qual podemos nos orgulhar, mas tudo bem). No primeiro e segundo anos fomos virando amigos, mas foi no terceiro que a amizade tornou-se verdadeira. Poderia destacar um monte de qualidades e tal, mas você sabe que isso seria forçado, que não seria eu. Então direi apenas as três coisas que mais se destacam em você: as qualidades (como a de lamber o cotovelo), suas teorias (o imediatismo - “estudar pra quê? A prova é só semana que vem”) e, principalmente, seus conselhos (“Cara, e daí se ela é gente boa? Ela é boa, não importa a parte do gente”). Bom, fora essas brincadeiras (e espero que sejam mesmo brincadeiras), eu gostaria de deixar claro o quanto eu me alegro de ter criado um circulo de amizade fora do colégio que inclui você. Sei, assim, que ainda terei que aturá-lo por algum tempo (quem sabe até concretizando aquele mito de amizade beneditina). Resumindo o que disse (mania tua, por sinal) tu é foda!
_Sem provas nessa semana; e faltam apenas duas... \o/­
_De qualquer maneira, vai ter ONU Jr (por que tudo em Novembro?). Boa sorte para mim e para Luíza, representantes da digníssima e importantíssima República Popular da Bulgária. Já entrando no clima do Pacto deVarsóvia em 1958: até semana que vem, camaradas.

sábado, 10 de novembro de 2007

Andorinhas

Nunca havia notado...Como após a chuva, às cinco e meia, as andorinhas voam de árvore em árvore.São tantas que parece inacreditável não se colidirem e se deslocarem tão silenciosamente.São livres, pois voam para onde bem entenderem com perfeita maestria.Talvez eu só tenha as visto agora, após tantos anos, devido às circunstâncias.Talvez eu seja um homem desesperado, que busca na natureza alguma forma de sabedoria capaz de me orientar através das dificuldades.E que de alguma forma se sente maravilhado, privilegiado de fazer parte disso tudo.O fato é que vou passar por provações que desconhecia até hoje.Nunca o futuro foi tão incerto, e o medo tão próximo.Mas peço a Deus, que me de o dom de ser como a andorinha, para que possa voar para onde quiser, com essa assombrosa serenidade...como quem nada teme.

Vou me afastar do Hipóbole, por tempo indeterminado, espero a compreensão dos colegas colunistas e dos leitores...
Adeus.

Feliz Aniversário!

Parabéns ao colunista Vitor Okendo que fez anos ontem!E boa prova a todos os vestibulandos!

A Vitor Okendo

Segue-se aqui minha homenagem a um grande, recém-formado, homem.
Não te conheço desde que nasci, também não a tão pouco tempo. Dizem que a primeira imagem é a que fica, mas não me lembro a primeira impressão que tive de ti, lembro-me do dia, aquele sábado, comemoração do aniversário do Marco. Não sei o que pensei sobre ti, lembro-me de ter te achado engraçado. Mas assim, superficialmente bem-humorado, assim como todos ali. Quem diria que irias vir a ser uma das pessoas que mais confio.
Tenho muitas lembranças contigo já, nesses meros 6 meses. Um tanto inacreditável, quase surreal, mas verdade. Se tornaste parte importante do meu 3º ano, da minha vida mesmo.
Acho que nunca te vi de mau-humor, tens uma tolerância maravilhosa, quase um escudo para aborrecimento, além de piadas estúpidas, afiadas e bem colocadas, nas melhores horas (Hum... Deus, Deus =P); és mais que confiável, nunca me decepcionaste: sempre estivera lá quando precisei. Muitíssimo obrigada, aliás; Por fim, és uma das pessoas que mais admiro.
Acho que mesmo com características mentais curiosas (1101011!!!111), és uma pessoa maravilhosa, digna do melhor e somente dele. Aproveite bem essa data, ela é única.
Mais que sinceramente, da sua colega de blog e amiga,
Luiza N. Silva

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Camila

A escuridão predominava e o céu estava sem estrelas. Estava num desses subúrbios, andando pelos becos como de usual. Era uma daquelas noites inexplicavelmente frias do verão, que nos fazer encolher dentro do sobretudo. O vento gélido soprou novamente, me deixando ansiosa. Necessidade, arg! Puxei o maço do bolso e o isqueiro laranja que comprei ao completar um ano de vício – minha miséria merece ser recompensada de alguma forma. Hum... nicotina! Minha salvação em forma de abismo.
A lua já passara de seu ponto mais alto, devia ser algo perto de uma da manhã mas, sinceramente, não importava mais. Entretanto, num súbito impulso, decidi voltar – andara por horas e não estava perto de encontrar solução para minhas frustrações. O caminho de volta foi absolutamente sem-graça, como a ida, como tudo no atual momento.
Abri a porta de casa, onde contas me esperavam – não que fosse um problema, nunca era. Era apenas desanimador, mais uma gota de um maremoto. Tirei o sobretudo, sentei-me ao piano, a única alegria da vida e fechei os olhos, tocando as divinas teclas de marfim. Sonata ao Luar, terceiro movimento. Os pensamentos fluíam livremente enquanto meus dedos percorriam seu caminho natural. Cenas da noite anterior começaram a rodar minha cabeça em flashes cinematográficos – a noite tempestuosa, os becos a Noroeste, a taverna... Forcei os olhos tentando expurgá-las, o que não funcionou. Então abri-os subitamente, suando frio – odiava a sensação. Terminei a peça de olhos abertos e acendi outro dos meus Camel. Não fumava outros, porque era como tocar um piano que não era o meu: perda de tempo. Há alguns objetos na vida que simplesmente encaixam, é como se apaixonar – uma vez encontrado o certo, não há o porque de um outro. E aquele cigarro era assim: moldava com meus lábios, descia suave minha traquéia e destruía meus alvéolos com carinho, quase. Tentador.
Levantei-me e olhei no espelho. A figura que me fitava era abatida, com olheiras profundas, cabelos negros de brilho azulado e pele branca desgastada – em que espelho ficou perdida a minha face? Bah, não, odeio Cecília! Gosto de Fagundes, Casimiro, Álvares e sim, sofro do baço.
As tonteiras de sempre tomaram conta de mim. Apoiei no piano e coloquei a mão sobre a têmpora – dois minutos e estava tudo bem. Automaticamente caminhei até a cozinha, já que desde ontem não havia comido nada. Não sabia o porquê, talvez fosse uma espécie de auto flagelação. Entrei e a faca que jazia sobre a mesa ameaçou-me – por um momento, senti-a cravada em minha garganta. Se eu conseguisse me ver, tinha certeza que repararia em meios olhos então arregalados, minha palidez e os suaves movimentos que minha mão fazia sobre minha traquéia, num misto de alivio e decepção.
Estava angustiada novamente. Sabia que meu corpo pedia uma tragada e meus dedos, o piano de volta. Atendi ambos, começando o Ostinato de Bartok. De vez em quando, tirava uma das mãos e segurava o cigarro. Acho que a escola erudita nunca me perdoaria. Ao final, deixei o improviso correr e, ao desviar minha atenção de meus próprios pensamentos, escutei o Steinway uivando angustiado. O solo ficava mais rápido – não por minha própria vontade, mas por ser um reflexo do meu inconsciente. E à medida que este foi tomando forma vi, apavorada, minha própria necessidade pulsando.
Olhei o relógio da parede: só tinha se passado meia hora. Senti-me tentada, fitando o sobretudo convidativo – estava ali, lindo, minha maça a morder. Vi-me saindo pela porta, numa súbita vitória da serpente, apalpando os bolsos para checar meus pertences. A segurança tomou conta e estampei um leve sorriso. Mesmo assim, a batalha interior continuava, mas agora era tarde: já passara do ponto sem retorno.
Saí na escuridão tão familiar e, ao mesmo tempo, tão intrigante e tenebrosa. A ansiedade trilhava minhas veias e o sorriso não desaparecera. Alguns momentos conscientes imploravam uma meia volta – sabiam que amanhã estaria infestada com culpa. Entretanto, nada disso importava mais – estava cega.
Entrei num clube do centro e escolhi a vitima, um rapaz alto e charmoso, presa fácil. Não que isso importasse, só tinha que saciar a vontade. Sentei-me no bar e acendi mais um cigarro, jogando-o olhares longos enquanto soltava a fumaça vagarosamente. Não demorou muito para entender: veio em minha direção com uma cantada barata, ofereceu um drink e flertamos por algum tempo. A conversa fraca e desinteressante me causara ânsia de vômito, mas o rapaz era bonito, então mantive o sorriso plastificado. Enfim, convidou-me para dançar e não ofereci nenhuma resistência. Seu jeito alimentava a raiva que havia se estabelecido – mesmo assim, não demorou muito para estarmos aos beijos. Senti-me melhor, chegava perto do meu objetivo. As circunstâncias levaram-nos ao carro e depois, a um motel.
Durante a viagem, não me dei ao trabalho de ouvir o que falava, só sabia que gostava de falar de si mesmo. Francamente, não a melhor estratégia. Franziu levemente a testa quando acendi um novo cigarro, que acompanhou com uma piada sem graça qualquer. Dissimulei e acariciei-lhe a coxa, dizendo que não iria se importar mais tarde. Não me surpreendi com a reação involuntária.
Chegamos no quarto e a situação esquentou: usei e abusei do garoto. O relógio bateu quatro e ele já dormia. Sentia-me melhor; olhei para seu corpo e sorri. Vesti-me apressadamente, colocando luvas de couro por causa do frio. Por fim, devolvi o pesado sobretudo a meus ombros. Enfiei a mão no bolso e uma carga de adrenalina percorreu-me. Meus dedos moldaram-se na corona e tirei a pistola do meu pai – uma bela Smith & Wesson negra com um silenciador adaptado. Respirei o poder venenoso e finalmente carreguei a arma. O clique acordou o jovem, aumentando minha satisfação. Vi que sentia vontade de gritar por socorro, não o fez porque alarmei-o das conseqüências. O controle me viciava, sabia que a vida daquele menino estava em minhas mãos – poderia poupá-lo, mas não ia. A palidez evidenciava seu pânico. Claramente via a vida pela frente destroçada pela luxúria. E se arrependia.
Mudou de tática em alguns minutos, implorando pela vida. Seu desespero só me divertia, até que perdi a paciência, dando-lhe dois tiros no peito. Segundo depois, parou de respirar.
Ajoelhei-me sobre o corpo, fechei seus olhos e toquei o sangue. O efêmero prazer tomou conta – sentia-me saciada. Mas a realidade bateu cedo demais: a gota de sangue escorreu e pingou. Olhei no espelho e vi um monstro.

Genial! Ou não... (3.5ª edição)

Minha coluna hoje está pobre, não tem fluxos de consciência nem recomendações. O principal motivo disso é o tamanho do conto que postarei hoje, o que inclusive me impediu de postar meu último poema. Não que isso realmente importe, ele aparecerá semana que vem mesmo.
E para as pessoas que acharam que 3.5 é uma referência ao D&D, sim, vocês estão cobertos de razão
Boa Prova a todos os vestibulandos da Federal e até próxima semana!
Frase da semana: "Ignorance is blissful" (W. Shakespeare)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Discurso de Formatura.

Bom dia, pais, mestres, parentes, alunos, colegas, amigos. É uma honra estar aqui à frente de vocês discursando sobre aquilo a que dediquei grande parte de minha última década, o Colégio, e é com grande prazer que aqui o faço.
Hoje pela manhã, fui acordado bruscamente pela desagradável voz do meu despertador falante, e pensei: ‘’Puta que pariu, tenho que fazer o discurso. ’’. Talvez tenha sido o imenso nervosismo, ou o fato de não me achar bom o suficiente para estar aqui em cima, a razão de minha amnésia. Não importa. O fato é que já estava à uma hora do presente, e não havia nem pensado como começar o falatório.
Puxei a camisa social que estava estendida na cadeira, enfiei pelo pescoço a gravata com o nó previamente feito, pois honestamente, nunca me dei o trabalho de aprender esse tipo de coisa que farei pelo resto da vida. Até escovei os dentes, visto a ocasião especial.
Já estava saindo de casa quando me lembrei das calças. Nesse ponto decidi que se tratava de nervosismo. Agora só intensificado pela protela do discurso. Saí correndo para pegar o ônibus, já que minha família inteira decidiu viajar para Cancun e me deixar aqui sozinho. ‘’Você não pode ir com a gente! Tem que fazer seu discurso lembra?’’. Pelo jeito não.
No caminho para o ponto decidi o óbvio: Faria o discurso ‘’nas coxa’’ enquanto vinha para o colégio de ônibus.
Resolvi esperar o ônibus com ar, não queria chegar a minha última convivência colegial suado e ofegante, apesar de ter passado a maioria dessas convivências nesses estados. O ônibus chegou mais cedo do que esperava. Finalmente uma quebra na lei de Murphy que regia meu dia! Encarei isso como um sinal divino.
O discurso estava pronto para ser feito, quando pensei na dura realidade: Como fazer algo que deveria ter dedicado dias, em uma jornada de apenas trinta minutos? Eu li uma vez que a criatividade fluí melhor durante o pânico da véspera. Decidi crer no potencial humano. Resolvi começar. Senhoras e senhores, por onde?
Se tem algo que eu aprendi a fazer bem nesse colégio, foram provas. ‘’Na dúvida de uma questão, faça sempre por eliminação. ’’ Resolvi eliminar o que não devia falar aqui hoje, para assim começar a escrever.
Primeiro, um discurso deve ser algo universal, era melhor eu não falar sobre minha vida. Infelizmente agora percebo que é tarde demais. Segundo, não deveria demonstrar nervosismo. Falhei novamente. Achei que não seria de bom tom falar mal de matérias ou de professores, por mais que grande parte de minha alegria da formatura seja pelo fato de nunca mais ter que olhar para um Benzeno novamente, nem ter de ouvir o falatório monótono do mestre de Química. Droga, esse método não está funcionando.
Respira meu filho. Potencial humano se lembra? Retomando. Não deveria falar sobre a saudade hipócrita. Isso eu consegui. Acho que seria até legal jogar uma piada sobre isso. Ahem. ‘’Aposto que a saudade que sentiremos uns dos outros não é maior que a saudade das noites perdidas da véspera da prova de Física não?’’ HÁ!
Tudo se encaixava, a piada ajudou a aliviar minhas tensões. Tudo estava claro. O discurso estava escrito de leve no papel, só deveria reforçá-lo com minha letra.

Infelizmente senhoras e senhores, o ônibus havia acabado de chegar.

Muito Obrigado.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Ausência

Por muito tempo achei que fosse o não estar
O estar sozinho
O vagar sombrio
Aí percebi que era um bicho que fica dentro do peito da gente
Comendo-nos aos pouquinhos

Achei que fosse o não aparecer
Mas vi que mesmo contigo
Continuava aqui dentro um vazio
Aí constatei que era o estar junto também

Pensei que fosse o teu silêncio
Entretanto quando falavas, não era comigo...
Cogitei até mesmo um duplo sentido
Mas não se encaixou
Porque a ausência foi apenas algo que eu inventei pra te ter como abrigo.

A Vida...

"A vida não vale a pena e a dor de ser vivida"

A vida é triste
Não vale a pena
é tão pequena, tão inútil
por que vivê-la?

A vida é cruel
Nos jogam neste mundo
como se fôssemos meras "coisas"
e não nos ensinam a viver;

A vida é pétrea (já dizia Drummond),
Crava seus dedos de ferro em nós
vai rasgando...nos deixa desidratados
Meros marionetes acabados;

A vida dói
é ferida aberta
é puro amor que não se preza
é cuspe na cara;

A vida é pobre
Cheia de meninos na rua
Cheia de barrigas vazias
e pessoas desempregadas;

A vida é injusta
o pão que é servido na mesa de uns
é o mesmo que falta,
na mesa de outros;

A vida não vive aqui
foi-se embora
deixou abraços e beijos
riu de nós e não perdeu sua hora.

domingo, 4 de novembro de 2007

Telos

No princípio dos tempos, o mundo era claro e vivo. O mar, as flores, o sol, tudo no mundo o coloria alegremente. O dia e a noite revezavam-se assistindo as mais diversas espécies que viviam em harmonia. O alimento e a água existente saciavam a todos; nada atrapalhava os ciclos da natureza.
No primeiro dia, uma espécie se espalhou pela terra. O Homem se multiplicava e, por algum tempo, manteve-se respeitando os outros seres. O Homem era feliz de maneira inofensiva à terra.
Então, no segundo dia, um humano ofendeu outro. E a família do segundo se sentiu desonrada. E a família do primeiro o defendeu. A tribo se dividiu em duas, tendo início a primeira guerra. Os vencedores se sentiram superiores, e fez-se a escravidão. Os líderes da tribo gostaram da experiência e resolveram ofender outra tribo. O Homem passou a lutar por sua terra, e por sua mulher, e por sua honra, e por tudo aquilo pelo que, segundo ele, valia a pena morrer, mas principalmente matar. E até por deus, que teria criado tudo, o Homem lutou.
No terceiro dia, conforme desenvolvia seus métodos de produção, o Homem desejava novos, cada vez mais eficientes. E o Homem criou a máquina. E o Homem disse: haja o Progresso. E as máquinas trouxeram o Progresso. E o homem regozijou-se pelo que havia feito.
O Homem viu que o Progresso era bom e, no quarto dia, continuou sua busca pelo Progresso. E o homem disse: que se faça as trevas. Com as cinzas do carvão e com a fumaça das fábricas fez-se as trevas. E o Homem orgulhou-se por ser o mais inteligente ser sobre a face da terra.
No quinto dia, o Homem pensou: não é bom que o Progresso esteja só. E começou a explorar o petróleo. E o petróleo ajudou o Homem na busca pelo Progresso. E as plataformas espalharam-se. O petróleo estava agora, em todos os cantos da terra, junto ao Progresso.
Vendo o quanto era superior, no sexto dia o Homem resolveu aproveitar-se cada vez mais do que lhe fora dado. E os céus e os mares foram poluídos. E tudo começou a extinguir-se. Conforme avançava o Progresso, a terra ficava mais feia, e vazia, e cinza.No último dia, a obra do Homem estava pronta.
E o Homem descansou sob a terra orgulhoso de tê-la modificado, eternamente.

Rua Dom Gerardo, 68

Ao subir uma última vez os degraus de meu Ateneu
[reflito:
Como percorro em poucos minutos
Os dezesseis lances de escada
A que devotei onze anos?

-Vão-se as horas de espera
Na fila do primeiro andar.
E os empalhados do segundo,
Os preços a que me acostumei,
As aulas de flauta... TA-Á.
-Vão-se aqueles almoços
Realizados em horário notório
No bandejão que virou couve-flor
(Enjoei-me de tanto feijão)
As horas no refeitório...
-Vão-se o rala-coco e o campão
Todas aquelas partidas
Jogadas desde que chegamos
Ao pátio do quinto andar.
Os anos de ginásio, de calças cumpridas.
-Vão-se as aulas que matávamos
No sexto andar, na enfermaria
E a oitava série negra
Que vivi no sétimo andar
(Preto, guitarra, anarquia).
-E agora o oitavo andar
De onde eu vejo a Baía.
Findo o ensino médio,
Vou-me eu embora
Na esperança de voltar algum dia.

Vão-se as imagens, os prazeres,
Vai-se cada peculiaridade

Ficam os Valores aprendidos
Ficam as Amizades
Fica a Saudade Hipócrita.

Três semanas que passam

_Políticos são todos iguais?
Para algumas pessoas, as eleições são um momento de mudança, de esperança, de separar aquilo que é bom do que é podre na política. Se você é uma dessas pessoas, ainda bem que você não mora na Polônia (a menos que você more na Polônia, saiba ler português e freqüente esse blog, o que é pouco provável).
Duas semanas atrás, no dia 21 de outubro, os poloneses escolheram seus representantes para o legislativo. O antigo primeiro-ministro, Jaroslaw Kaczynski, do partido de direita PiS, viu sua legenda ser derrotada pela Plataforma Cívica, do político de centro-direita Donald Tusk, apoiada pelo ex-líder do Movimento Solidariedade, Lech Walesa.
Até aí tudo bem, as mudanças parecem ter ocorrido e tudo mais. No entanto, dizem que um registro fotográfico vale mais que os escritos e o processo eleitoral foi marcado pela seguinte foto, em que o ex-primeiro ministro cumprimenta o atual presidente, seu irmão gêmeo. Tirem suas próprias conclusões.
_Em resposta ao trecho que me toca (metaforicamente) no texto do Kendo da última terça-feira, gostaria de completá-lo com uma passagem relativa a nossa vida na oitava-série. Ocorreu no dia 10 de Novembro de 2004, seu aniversário; Seu pai nos levaria para o Hot Zone. Mas, pensei, o Vitor não disse diversas vezes que seu pai não era outro senão o próprio diabo? Qual não foi minha surpresa ao descobrir que o motorista do carro não era o capeta, o tinhoso, o das sete peles, ou outra nomenclatura que ele tenha usado, mas um senhor com uma profissão honesta, a da urologia...
_Àqueles que estão sem fazer nada na internet esse domingo, sugiro o curta O Paradoxo da Espera do Ônibus, um dos melhores da última Maratona Odeon. Um texto que também recomendo é a crônica Ter ou não ter namorada, de Artur da Távola, que pode ser encontrado em qualquer blog (que dirá que é de Carlos Drummond) se você procurar no google.
_Até semana que vem, boa sorte aos que farão prova da UFRJ no domingo.

sábado, 3 de novembro de 2007

Trova Épica de Verão


Trova Épica de Verão



Estava tudo acertado.Tudo planejado.Fizera o último telefonema, escrevera seu testamento, já havia fechado a conta no Banco (a parte mais demorada, que fez o compromisso ser adiado em quase cinco meses), declara seus pensamentos mais ocultos às pessoas mais inconvenientes, faltara o trabalho para passear sem rumo.Mas mesmo assim era tão difícil...Olhava a dose de cianureto.Olhava para o chão.Como pude...Deixar as coisas chegarem a esse ponto...A derrota lhe era certa: não importava o seu esforço.Mesmo que a realidade não fosse penosa, não escapava da monotonia.Pronto!Decidido!Olhar só mais uma vez pra esse céu.
Mas que surpresa!As árvores do vale...Era simplesmente maravilhoso.As folhas estavam douradas, com uma beleza nunca antes vista.Nesse instante, seus olhos, há muito vendados, pela grossa camada de desesperanças cotidianas, voltaram a enxergar.Olhou ao seu redor...Recordou-se de momentos da infância.Olhou ao redor novamente...E tudo fez sentido.Subitamente se lembrou de suas idéias, suas buscas, e do ardor, da paixão pelo que fazia.Percebeu que há muito seu trabalho era esvaziado de emoção.Não se esforçava por achar os elogios suficientes...Nunca foram, nunca seriam.De que lhe adiantara estudar com afinco, se não sabia onde queria chegar?!Num só movimento jogou fora aquela droga de veneno, e já se sentia mais calmo.Plena placidez de alma.E logo veio à sua mente a seqüência de notas de uma melodia.Era uma trova!Tão única e inexplicável quanto cada uma de todas aquelas folhas, de todo aquele verde transformado em dourado! Correu para o quarto, montou a máquina.Era necessário captar aquele instante que salvara sua vida.Preparou tudo, dessa vez com menos teoria, e mais amor, e tirou a foto.












(Ipês florescendo, 02/11/07)
foto:Lucas Mourão


Era o inicio de um novo tempo.Veio à sua mente uma frase que Neil Gaiman dissera em uma entrevista: “Não se trata de acreditar que dragões existem, se trata de acreditar que se eles existissem haveria homens capazes de derrota-los”.Pegou a mochila, abriu a porta, e partiu em busca de conhecimento.


quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Soneto à uma gauche

Brilhas dentro da rotina do turbilhão

Diferente, incompatível, inconcebível

Ainda sim, singular e indescritível

Um tipo heptafacetado de perfeição



Vê-se os rótulos que lhe aprisionam, eternos

Vê-se as máscaras firmemente fincadas

O rosto jovem imune a abalos externos

E o coração amargo imune a flechadas



Por um instante, a guarda jaz abaixada

A luz cruel confronta tua transparência

E surge a faísca da autenticidade



Mas vá agora e viva descompromissada!

Porque teus olhos afirmam com veemência:

És só uma criança que busca a verdade

Tons de Cinza

Uma manhã de dia nublado:

'Olha o tempo fechado'

'Nossa, verdade, está feio!'

Pausei e pus-me em devaneio



Lembrei-me do céu anil

Simples

Uniforme

Monótono

Sorri 'Viva as nuances, viva a diversidade'

Genial! Ou não... (3ª edição)

Olha só, mais uma semana que passa (hum, acho que já ouvi isso em algum lugar...) e o blog está ficando cada vez mais divertido, destaque para o texto do nosso colunista convidado, João Bernardo, e os últimos posts de Vitor Okendo. Já eu não seguirei a linha e postarei dois poemas enfadonhos e sérios. Blergh, como eu sou monótona.
Já que ninguém falou nada, cabe a mim apresentar nosso motto: "Nil est dictus facilius", literalmente "Nada é mais fácil que falar". Achamos que combinava, o que vocês achavam?
Amanhã, nossa colunista de sexta-feira, Luísa Tolhuizen, vai fazer sua estréia e estamos todos ansiosos para ler algo dela. Por favor, sejam bonzinhos e não assustem a menina. Nha, tudo bem, esquece, façam o que quiser.

Como sempre, meu vômito intelectual semanal (olha aí tua expressão favorita, Marco) inclui a frase da semana, recomendações e uma breve troca de idéias sobre algo, para quando vocês tiverem um tempo de ócio pra matar.

Nossa, entrei no Google ontem e me deparei com mais um daqueles logos de feriados (o de Halloween) e pensei o que sempre penso 'Que coisa legal'. Aliás, a Google tem uma boa coleção de logos comemorativos que eu particularmente acho maravilhosa, com datas incluindo o aniversário do Munch (12 de dezembro), do meu para sempre amado Sir Arthur Conan Doyle (que, previsivelmente, é tão geminiano quanto eu; 22 de maio) e do Louis Braille (4 de janeiro).
Aliás, falando em Conan Doyle, acho justo eu, uma pessoa que já leu toda coleção do investigador da 221B, Baker Street, escrever algo sobre os livros.
Primeiro de tudo, espero que ninguém vá me dizer que o Poirot ou a Miss Marple, por mais que eu goste dela, é melhor que o Holmes. Não consigo imaginar nenhum dos dois solucionando casos como O Cão dos Baskervilles ou Um Estudo em Vermelho ou mesmo Signo dos Quatro.
Todos são romances policiais lindos, de tirar o chapéu. Mas Doyle também tem contos menores que são simplesmente emocionantes, como A Faixa Manchada ou O Pé-Do-Diabo.
Aliás, o livro que reúne essas crônicas que tenho é quase épico. Comprei-o num sebo por 3 libras – é um livro extremamente bem tratado, de capa dura, que ao olhar descuidado, parecerá uma enciclopédia parruda. As letras douradas descrevem "Great Works of Sir Arthur Conan Doyle", junto com uns floreios que margeam a escrita. Ao ser aberto, o livro mostra suas páginas ocreadas e exala aquele cheiro característico da antigüidade. Estou até começando a achar que ele merece um poema. Mas chega, já me estendi demais.

Frase da semana:
"Qual é hoje," perguntei "cocaína ou morfina?" Ele desviou languidamente os olhos do velho volume preto que tinha aberto.
"É cocaína" disse "Uma soluçao de sete por-cento. Quer um pouco?"
(Sherlock Holmes, O Signo dos Quatro; frase original em http://en.wikiquote.org/wiki/Sherlock_Holmes, abaixo de Sign of Four)

Recomendações:

Bom, minha primeira é tão específica quanto a prova de Matemática que faço hoje. Aproveite o tempo e depois de ler a verdade dominical, i.e. a coluna do Marco, para pegar a Revista de domingo do jornal O Globo e ler a coluna da Martha Medeiros. Aliás, quero declarar publicamente minha paixão pela escrita dessa mulher, porque ela é simplesmente genial.

A outra dá menos trabalho, porque é daqui mesmo: o texto "A Quase-Galinha", de Lucas O. Mourão que, apesar de não ser metáfora nem fábula, é uma leitura agradável, descontraída e de uma certa forma provocativa: http://hipoboleconjugada.blogspot.com/2007/10/quase-galinha.html

A última da semana é para pessoas como eu, que não tem nada para fazer e são tirinhas! Sim, as últimas cinco tirinhas do Garfield estão geniais e homenageando o Halloween de ontem, então, divirtam-se:
http://www.garfield.com/comics/comics_archives_strip.html?2007-ga071030
Aliás, o site do Garfield em si é divertido, então aproveitem pra dar uma volta.

Até a próxima semana!