domingo, 30 de dezembro de 2007

Mais um ano que passa

Olha eu aqui de novo, duas semanas seguidas.
É possível que você esteja pensando "Lá vem ele de novo com uma desculpa pronta para não ter escrito nada, deixando o blogue de lado mais uma semana". Mas acredite, não há vestibular como desculpa e não conheço outro sociólogo que possa usar como justificativa.
Foi por isso que ontem comecei a escrever uma crônica. Poderia tê-la terminado, mas acho que ficaria ruim. Ainda assim precisava postar alguma coisa, pois minha ausência em sequência já estava ficando chata.
Então resolvi fazer o seguinte, mesmo que seja precipitado.
Postei abaixo o que espero que venha a ser o primeiro capítulo, ou talvez o prólogo, do romance que citei semana passada. Não sei se será possível completá-lo, verei conforme a história avança, mas de qualquer forma resolvi que poderia fazer algo relativamente novo...
Conforme escrevo, postarei aqui e peço que, caso haja alguma sugestão/crítica/qualquer outra coisa, vocês a façam pelos comentários, mesmo que seja algo ruim ou correção gramatical.

Postei essa semana, mas tenho já a desculpa pronta para as próximas. Viajarei em janeiro e não sei se será possível postar um texto por semana. Vou tentar deixar algo pronto para os outros postarem, mas não sei ainda se será possível.

Enfim, feliz 2008, para mim e para vocês.
E, por que não, que o Hipóbole continue assim, não no ritmo de dezembro, mas no de outubro/novembro.

Prólogo

“Mas como foi a sessão de fotos? Você ficou nervosa?”

“Claro... Foi o meu primeiro ensaio, então o nervosismo era natural, sabe, com tantas pessoas me olhando. Mas correu tudo bem; a equipe era ótima e o fotógrafo extremamente profissional...”

Ainda que inédita, a matéria soava repetitiva para o repórter. Já havia, em diversas oportunidades, entrevistado ex-participantes do Big Brother que estampavam capas de revistas masculinas. Mas não é nisso em que consiste sua profissão? Basicamente, vasculhar o mundo das celebridades televisas atrás de notícias bombásticas e, não as conseguindo, extrair algumas palavras de quem não tem nada a dizer. Não se orgulhava do emprego, mas era isso que lhe dava dinheiro, bastante por sinal, e garantia sua fama.

Para que os quatro anos estudando jornalismo se não sentia prazer ao escrever, e menos ainda ao ler sua revista? De que lhe valia a erudição acumulada se grande parte dos leitores e dos personagens de suas matérias não sabiam o significado da palavra? Só o que sabia é que, caso morresse naquele momento, não teria morrido feliz.

De qualquer forma, seria injusto dizer que não era bom no que fazia. Toda semana publicava matérias que provocavam exclamações de surpresa nas donas de casa que, ao irem comprar pão, paravam diante das revistas expostas na banca de jornais. Até mesmo aquela entrevista, sem conteúdo algum e por ele desprezada, conseguiria a capa caso ninguém famoso se casasse ou se separasse naquela semana. Por mais que a razão lhe fosse oculta, a maioria da população interessava-se por aquelas banalidades da mídia, desde que tivessem sido escritas ou comentadas por ele, o mais temido e respeitado repórter de fofocas, o herói dos paparazzi, o guru das domésticas.

E pensar que, quando jovem, interessava-se por Política e História... O que queria era estar numa Universidade discutindo filosofia, e não na sala de estar de alguém que devia sua fama a um reality show. Sonhava em publicar ensaios sobre a situação do país ou, por que não, sobre o ateísmo que defendia até mesmo de forma irracional antes de vender-se àquela revista de fofocas. Mas quem os leria? A parcela da população que lê seu trabalho não se interessa por tais assuntos e a parcela que se interessa nunca leria algo seu, senão na sala de espera do dentista.

Enfim, não dispunha de tempo para questionar-se sobre algo tão fútil quanto os rumos que sua vida havia tomado. Tinha uma entrevista por fazer e aprendera, após anos em sua profissão, que pensar não era algo produtivo.

“E os projetos de trabalho agora que saiu da casa mais famosa do país... Como estão?”

Algumas vezes se indagava o porquê de perguntas tão idiotas. Não era preciso ter toda sua experiência para saber a resposta daquela. Meia dúzia de campanhas publicitárias e, talvez, uma oportunidade de emprego na próxima novela das seis, algo de que seus contratantes logo se arrependeriam. Depois disso, o ostracismo.

Dessa vez, no entanto, não ouviria o que aquele ela julgava ter a dizer... Sentiu uma dor lacinante no coração e viu o ambiente ao seu redor escurecer.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Caderno de um poeta

Folhas amassadas e magoadas
Rasuras infinitas
Idéias cruas e inacabadas
Anotações benditas

Zombaria d’uma caneta falhada
Mentiras desvairadas
Eu-lírico de lástima exagerada
Lágrimas derramadas

Pérolas a porcos, precipitadas
Mil balas de safira
Esmeraldas a Afrodite, jogadas
A reviravolta e vira

Lirismo comedido ou espatifado
Tudo espalhado

Aristocrático

Sorria, sorria sempre
Desventura emocional?
Ninguém se importa
O mundo é superficial

Esteja sempre bonita
O apego é material
Conteúdo? Pra quê?
O mundo é superficial

Problemas? Que problemas?
O mundo não quer saber
Por isso, sofra em silêncio
Não deixe ninguém perceber

Genial! Ou não... (7ª edição)

Sim, postando na sexta ^^ Espero que o Natal de todos seja maravilhoso. Espero, obviamente, que o Ano Novo de todos também o seja.

Essa semana foi frutífera para reflexões – diversos temas foram abordados na minha cabeça e três deles viraram poemas (mas acredito que o terceiro seja demasiadamente pessoal para que possa postá-lo sem preocupações). Mas essa semana descobri algo: não basta somente a inspiração inicial na construção de um poema, mas também tempo para trabalhá-lo. Isso pode parecer óbvio e sem-graça, mas me intriguei a beça com isso. Devo ter uns 20 poemas e nunca percebi? Como assim?
Pois é. Porque essa semana foi cheia de fontes de inspiração no meio do caminho (no ônibus, que é meu local favorito para escrever, atualmente), o que me fez ter poemas pendentes (!!), que tinham buracos para versos e versos mais ou menos, que foram substituídos logo após. Dos meus pendentes, ainda me restou um.
Algo também chamou a atenção de um jeito brusco: os parques da cidade do Rio de Janeiro. Nessa semana, fiz um passeio com meu tio, sob o sol de 40 graus pelo Jardim Botânico e pela Lagoa. Claro que sempre quando faço um passeio desses, me impressiono com a beleza da cidade, que é algo aceitado bem no consciente de todos e supostamente, bem óbvio. Mas andando pelos lugares bonitos da cidade (que de forma alguma não se resumem aos que citei), descobre-se que não é nada óbvio, não é previsível. Descobre-se que esses lugares tem uma magia, uma personalidade própria e um humor que os torna dignos de muito mais que uma visita por ano.

Hum... recomendações? Nenhuma por essa semana, além de um bom champanhe!
Até qualquer dia da semana que vem

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Muitas semanas que passam

Bom, já passaram muitas semanas, perdi a conta.
De qualquer forma, estou aqui para pedir desculpa pelo longo tempo sem escrever, não só a quem lê nosso sítio, mas também aos outros colunistas (embora seja estranho chamar meus amigos, simplesmente, de outros colunistas).
Enfim, a culpa é minha, não vou mentir, mas não só. O grande culpado é Domenico de Masi, um sociólogo italiano, teórico da sociedade pós-industrial. Você deve estar se perguntando o porquê... Talvez não, mas devo uma história e vou contar essa mesmo.
No final de novembro li um texto sobre a teoria de de Masi, chamada por ele de ócio criativo. Segundo ele, seria possível, numa sociedade pós-industrial, que trabalhássemos menos e apenas com aquilo que agradasse. Basicamente, ele tenta nos convencer de que o ócio faria bem ao homem e o tornaria mais criativo.
Fiquei feliz ao ler essa utopia, afinal estava prestes a entrar de férias... Ora, férias, para alguém que acaba de concluir o ensino médio, significa ócio e ócio, segundo o italiano aumenta a criatividade.
O tempo passou, o vestibular terminou e fiquei decepcionado. Domenico de Masi me mentiu. Me deu uma falsa esperança. O ócio definitivamente não fez bem a minha criatividade, ainda não produzi praticamente nada nessas férias.
Foi assim que comprovei que ócio, tudo que ele produz é... Ainda mais ócio. A atividade constante é que leva à criatividade.
(Gostaria de lembrar que isso é uma brincadeira apenas. Se você concorda com a teoria do ócio criativo, não pense que a estou insultando.)


Continuando...
Peço desculpa por estar postando numa segunda, mas foi quando eu consegui escrever algo e falta muito para domingo.
Por último, gostaria de dizer que esse período não foi de completa inatividade na escrita. Estou trabalhando em dois possíveis projetos, uma série de contos minimalistas e um romance. Não publiquei nada deles porque estou esperando que eles tormem formas mais concretas, de forma que eu não comece a postar e deixe pela metade.
Feliz natal e até breve.

(Propaganda) Um colega meu pediu que colocasse aqui um link para seu blog recém-criado. Lerei agora, pra ver como está. Se você não tiver nada pra fazer, fica a sugestão.

domingo, 23 de dezembro de 2007

A Esperança

A Esperança


Dos céus desciam raios de luz, banhando a vasta e incompreendida gama de formas de vida.Os pedestres seguiam seus rumos, como se fosse possível ignorar os demais à sua volta.
É muito fácil demonstrar desprezo e pouco caso quando o conforto é certo.Mas mesmo os que sabem disso possuem um vício doentio em buscar essa luxuria.Nada mais são do que seres frustrados, que por não serem metade do que sonhavam, crêem que não custa nada fingir.Vivem na ignorância, até mesmo do sofrimento de seus “amigos”.E assim o amor some no pulsar da cidade.Para um observador-morador tudo que sucede é natural, os homens tem o mau do orgulho em sua natureza.
A verdade (ou o mais próximo dela) é que só um observador externo é capaz de chorar de raiva por dentro, ao ver tantas criaturas tolas desperdiçando o que lhes foi dado.
Dizem não acreditar em Deus, alguns até se acham rebeldes por isso.Mas não é nenhuma surpresa, afinal a última coisa que um ser vazio de crença pode ter, é a gratidão.Ora, gratidão à que?!...A poder ler isto (mesmo que não o agrade), e ter liberdade para ler tanto mais quanto quiser (e inclusive parar de ler agora); a poder caminhar livre; cantar; sonhar;construir; realizar.Mas é tão mais fácil ser a vitima não é mesmo?...O mundo já é cheio de vitimas (reais) demais, para se compadecer de mais uma patética crise existencial...Ou por acaso acham que são os únicos a não realizarem seus sonhos?!
Ora, ninguém tem a vida que sonhou, e se tem, é a mais infeliz de todas as pessoas.Só não Sonha quem já está morto.Aliás, o Sonho, irmão da Morte, por ironia é seu antagonista.Uma antiga questão familiar, mas isso não vem ao caso.
Era nisso que pensava, enquanto através de um fresta, de um barracão em forma de corredor( anexo ao posto Esso da Jardim Botânico com Saturnino), observava os pedestres.Tinha um deformidade rara e um doença degenerativa, que já lhe causava dificuldades de locomoção.Os pais eram ciganos, e venderam-no para um senhora, que era proprietária de alguns apartamentos.Desde cedo prestava serviços de contabilidade ao posto de gasolina.De fato, poucos egoístas em meio à “pressa” muitas vezes forjada ( devido ao medo de encarar o meio, e cair num dos abismos da consciência) paravam para notar que o barracão era uma continuidade de um segundo andar do posto.Mas ela notou...
Talvez pelo fato de ser arquiteta, talvez pelo hábito de observar cuidadosamente o caos das construções urbanas.Por um breve instante,olhou fixamente para o barracão, e ele notou.Pela primeira vez tinha certeza de que alguém se importaria se o visse.Sentiu-se um pouco menos amaldiçoado, sorriu.Foi uma pequena alegria, mas suficiente para evitar o suicídio, que sentia estar próximo.Assim como esteve perto de seus pais, quando se despediram, dizendo que viajariam para bem longe da maldade humana...
E voltou a fazer os cálculos, olhando as aglomerações de pombos.


Lucas O. Mourão
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Caros leitores,
voltarei a escrever com frequencia em meados de janeiro...a continuação de zahr está sendo trabalhada, nao se preocupem, e bom Natal a todos!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Apenas Status Quo

Sempre me disseram que a sensação pós-bebida alcoólica era incomparável. Comentários aqui, comentários de lá e o byronismo alcoólico (se é que isso não é uma redundância), mantinha-se sempre no seu processo de formação imaginária e obscura em minha mente. Já mareada do sempre “mais do mesmo”, lá fui eu atestar o que para todo mundo já era fato. Antes era apenas um pouco de cerveja e alguns goles de vinho. Poucas vezes no Natal umas tacinhas de sidra. Nada demais. E eu continuava a procurar o “fantástico” e o “fabuloso” que até então ainda não me fora revelado. Indo mais a frente, com um pouco de champanha e uma boa dose de vodca, lá estava eu mais que nunca, frustrada. E o tal efeito maravilhoso? Seria este apenas um pouco de vertigem e uma incapacidade de falar alto e claro? Sem contar no gosto da própria bebida, que na minha opinião o que a estraga é o álcool. Irônico demais, quando o que dá “os efeitos” é o próprio. Mas se é que posso comparar, “beber” seria o mesmo que parar em um posto de gasolina e entornar uma garrafa de gasolina goela abaixo. Acredito piamente que o cheiro, a sensação de ardência e o gosto seriam os mesmos.
E ainda ouço quem acha que entende do assunto me dizendo que a culpa foi a bebida escolhida. Pode até ser. Mas considerando que todas continuarão com o mesmo gosto acre e a ardência laríngea, não. E muito obrigada. Chega de frustrações em torno de sensações, pra isso deixo minha vida amorosa.
Coisas como essas nos fazem pensar o “Por que bebemos”. Seria para “entrar para o clube” e poder dizer “Eu bebi” ou apenas para comemorar com os amigos e pode cantar a música do skank “Desce mais!”. Se fizermos um pouco de esforço o segundo motivo é praticamente o primeiro, só que um pouco de pó-de-arroz, sombra e blush. Por que comemorar com os amigos tem envolver bebida alcoólica necessariamente? Pergunto isso porque se um pedisse vodca ou tequila e o outro embarcasse no suco de laranja ou no mate, certamente o reprimiriam. Eu continuo com idéia de que uma sprite desbanca qualquer um. Pena é que para achá-la só mesmo fazendo um esforço hercúleo. Enquanto os meus amigos estão no terceiro copo da redonda no shopping, por exemplo, eu ainda procuro uma mísera latinha verde (que não é soda).

sábado, 15 de dezembro de 2007

Zahr-parte 1

Zahr:


Introdução:

Olhava a pilha de formulário a serem preenchidos.De todos os lados, sons típicos de um escritório: telefones tocando, secretárias passando, o burburinho dos colegas que discutiam os planos para a noite, tomando café.Tudo tão tedioso.Será que só ele se sentia sufocado pelo cotidiano?Se levantou, foi até a janela.A visão de um mar cinzento à sua frente.Não pensava em nada, afinal não havia nada, ou melhor, tudo era inerte.Mesmo as coisas que se movimentavam eram tediosamente previsíveis.Ele, só mais uma criatura patética, em busca de alguma forma de reconhecimento.Nada mudaria.Queria ser aquela gaivota que voava à sua frente, sempre explorando novos territórios. “Cansado do trabalho?” Era a voz do chefe, vindo de trás: “Vamos fazer o seguinte, já são quase sete, pode ir pra casa, você já fez um bom progresso essa semana! Hahaha...” Sabia que era tudo mentira, papo furado, parte da política da empresa: dar impressão de bem estar, fortalecer a vaidade dos funcionários em nome da companhia...Não importava, queria sair dali o mais rápido possível.
Na volta, passou por um sebo, procurando algum vinil, ou livro de ficção.Já que a vida é tediosa, fantasiemos outras realidades, pensou.Adorava aquele lugar,não tinha aquele ar pretensioso das livrarias “multinacionais”, quase todos os livros eram de segunda mão, tinham história.Isso o fascinava!.As pessoas daquele meio pareciam admirar verdadeiramente os artigos.Estava farto daqueles pseudo-intelectuais, até mesmo dos intelectuais das “multinacionais”.Estava farto de qualquer esforço em nome de uma aparência, e aquele lugar era o mais verdadeiro possível.Terminou comprando o último livro do Sandman, O Fim dos Mundos.Deve ser interessante, pensou, ainda mais com uma apresentação escrita pelo Stephen King!Quem será o maluco que se desfez de uma obra dessas...
Em casa, nem chegou a jantar.Sentou-se na poltrona que fora de seu pai, pegou o livro, começou a ler.Em quatro horas havia lido tudo, e pensava que aqueles tinham sido os centavos mais bem gastos em muito tempo.Exausto, acabou dormindo.
O azul se fundia com o roxo, em nuvens de fumaça cor violeta.De todos os lados vinham luzes brancas, que oscilavam como uma lâmpada com mau contado.Havia uma sensação de velocidade indescritível, e a cada instante surgiam novas nuvens, de diversas cores, se revezando incessantemente .Não havia cheiro, mas ainda assim era a sensação mais intensa possível, para um ser humano. Inclinou a cabeça tentando olhar para baixo, foi só então que percebeu que não havia “baixo” nem “cima”, e que estava descalço.Que sonho mais bizarro, afinal por que nunca uso sapatos nos meus sonhos?...Freud deve explicar isso, pensou em tom sarcástico.
Acordou.Até que enfim, tava cansado daquela loucura...Os olhos,abriu-os lentamente, pois a luz os machucava.O solo era árido...Não estava em seu apartamento, mas sim em um local ermo, totalmente deserto.A paisagem era arenosa e havia tufos de capim esparsos, entre pequenas poças rasas.O Céu era de um tom vivo de azul, e ao longe montanhas e colinas, com neve nos cumes, o circundavam.Levantou-se, estava mais pesado que o normal, sentia dificuldade em se equilibrar.Ao longe surgia a silhueta de uma mulher envolta em um manto de pele de urso.Caminhava em sua direção serenamente, com o olhar fixo nele, portando um peixe- preso por uma rede, na mão esquerda.Também estava descalça, reparou.
-Quem é você?
-Descanse viajante, poupe esforços.Estávamos ansiosos por sua vinda.Mas tudo deve ser realizado a seu tempo, não é mesmo? Amanhã sua mente estará mais clara...
(continua)
Lucas O. Mourão

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Metapoema

Esse poema é um suspiro
Um desespero, a solidão dividida
É um corte fundo
Um desabafo, uma memória partida

Esse poema é o âmago,
O mundo despencando, concentração de agonia
É a mágoa acumulada
O não ter pra onde ir numa noite fria

Esse poema são lágrimas não choradas
É o miolo da couraça em formas simplificadas

Cesariano

"Até tu, Brutus, meu filho"


Honra despida
Orgulho assassino
Vergonha foragida
Ódio divino

Mérito? Que mérito?
Diga-me, cobra mascarada!
O justificável inquérito
Precedido da facada

Conseguiste o que querias?
E agora me olhas com desgosto?
Aproveitaste o que podias?
Obrigada pela pegada no rosto

Genial! Ou não... (6ª edição)

Olá, meus caros!
Ao contrário de todos, resolvi postar dois textos hoje. Perdoem-me pelo excesso de sentimentalismo da semana, prometo que volto à minha métrica assim que possível =).

Enfim, hoje tive uma experiência e tanto ouvindo músicos de verdade tocarem. E no meio do meu êxtase musical, Wave a piano e flauta, me perguntei como as pessoas que passavam podiam ignorar algo tão belo, que só tomaria uma parcela de suas preciosas rotinas. Como resistiam ao encanto do fauno? Como não estavam prontos para serem servos daqueles semi-deuses? Como negligenciavam a música divina?
A dúvida durou pouco, já que o improviso do piano chegara, trazendo toda sua jinga brasileira, num solo de pura inspiração, daqueles que se fecha os olhos e se sente os dedos correndo pelas teclas por vontade própria. Em compensação, voltou agora, mais intensa. Será que a ocupação de andar sem rumo pelo shopping prevalece a tal espetáculo? Será que a mente dessas pessoas não sente a magia daqueles sons?
A única conclusão que chego, e acredito que chegarei eternamente, é a falta de interesse, a falta de "tempo", que se resumem numa falta de Carpe Diem

Recomendações: O CD "Birds of Fire", da Mahavishnu Orchestra. Com sua melhor formação, uma das grandes representantes do Fusion inaugura seu estilo próprio, cuja única palavra que associo é gauche – não se encaixa em nada que ouviste antes.

Até quinta que vem!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Além dos ventos

De um fundo azul e bordas marcadas
em duas órbitas cheias de sonhos
transbordando sóis em manhãs douradas
seus olhos emitem o brilho
de uma estrela sozinha

Através do universo,
sinto seus passos na areia
Sei que andas em direção a mim
Sei que pensas em mim
e que devora cada vã palavra

Ao olhar pela janela e sentir o abismo,
pode jogar-se pois sabe que estarei lá
Serei o fim do caminho,
um súbita conclusão,
o chão macio
além dos ventos da queda

Alice Caymmi

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

"De contemptu mundi"

Foto: Lucas O. Mourão( Dia chuvoso de novembro)


“De contemptu mundi”

Os tempos são outros, os sorrisos os mesmos
Nos rostos das crianças que caminham pelo bairro
-Eu envelheci,
-Todos nós...
Mas tantos outros nasceram, apesar dos que se foram
A pobreza é a mesma:
Os meninos de rua cresceram,
Mas as barrigas não pararam de parir
De modo que, após tanto tempo
Esses miseráveis na verdade ainda são os mesmos
Direita, esquerda,direita, esquerda
Os governos mudam,
A burocracia, sempre a especialidade da casa
Até as velhinhas que caminham nas praças aos domingos,
Parecem ser as mesmas!
Uma reforma aqui, outra ali, mais uns barracos na favela, mais uns terrenos ilegais nas mansões...
Mas a cidade ainda é a mesma
Depois de tanto tempo...tantas preocupações, alegrias e desgraças
É como se tudo acontecesse ainda pela primeira vez
Em cada vida uma história
Quase sempre aprisionada,muda até seu fim...
Como se a razão de existir fosse dar fim à desgraça da vida...
Talvez as coisas ainda sejam as mesmas na sua essência
Já que o homem ainda é espécie dominante
Num Mundo tão vasto, tantas histórias,
Tão pobres memórias...
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Lucas O. Mourão

Tempestade em Copo D'água

Benção, Afrodite de nós, mortais!
Pausa o mundo apenas com um piscar
Num segundo, a mente atingiu o jamais
Não quero, não posso, não devo contar

Ironia de todos os verões
Relinche, brabo, centauro orgulhoso
Corra, bem veloz pelas estações
E mantenha-se assim, bicho teimoso

De fascínio, tornaram-se rocha
O cintilar verde é hipnotizante
Sorris, e das estátuas debocha

Do triste sonho, vejo-me acordar
Santo pensamento cicatrizante!
Enfim, uma flor para desabrochar
__________________________________
O terceiro soneto, que batizei alternativamente de "Homenagem exacerbada", mas achei o título atual mais apropriado.

Prisão

O mundo parou nessa sala dura
O céu foi reconstruído em pedra escura
Crispo as mãos no ferro, em revolta
Suspiro da esperança sem escolta

A gota eterna não traz o sono
Sanidade dá o sinal do abandono
Escorre cruel nas temporâs frias
Universo confinado em vistas vazias

Anseiada liberdade, jamais!
Liberdade, somente o vento traz!
Vento? O que seria um vento?
Uma palavra apagada num momento

Grilhões cruéis, correntes malditas
Oh, a dor de punições infinitas!
No mundo de sombras, degradarei
Consciente da amargura que causei

Genial! Ou não... (5ª edição)

Olá, meus caros!
Minha humilde coluninha semanal diminui em P.G. nas férias por causa do meu eterno pecado capital – queria pedir desculpas por isso. Queria também apontar que o Hipóbole, durante nossas férias, funcionará como postagem semi-livre, só voltando ao seu funcionamento normal em Março de 2008, quando voltaremos todos às nossas rotinas (ou teremos rotinas novas, como é o caso da maioria). Postagem semi-livre significa que o colunista pode postar fora do dia ou não postar, mas nada de postar mais vezes na semana (como se isso fosse realmente acontecer =P).
Aliás, extremamente IMPORTANTE: ontem foi o aniversário da nossa literata de plantão – alguém lembrou de envergonhá-la bastante? Obviamente, minha reflexão semanal (inútil) será sobre isso.

Acho que a Ingrid nunca teve muito jeito – é um caso perdido desde que a conheci. Aliás, na verdade, a melhor definição pra ela é: um bicho estranho, que se alimenta de livros – e como come! – e pó de garaná com medicina. É uma garota orgulhosa, daquelas que teima, bufa, bate o pé quando acha que tem que; fala português corretíssimo, inclusive pronunciando bem o duplo r e vogais inúteis, como o U de louca; vicia todo mundo em Drummond; escreve divinamente – não que isso seja novidade.
Ingrid pode ser comparada a um porco-espinho de vez em quando – na verdade, quase sempre. Ela tem essa armadura permanente, um disfarce bem eficiente pros sentimentos, mas mostra a sua nobreza inabalável quando é preciso e o coração enorme. Acho que sempre contarei essa história quando for falar o quanto gosto dela, mas foi a garota que cruzou a chuva torrencial no sábado do meu aniversário, demorando 2 horas para chegar no local. Sou um tanto blaze perante a tudo, mas isso me comoveu de tal forma que grudou no meu coração. Do lado dessa garota.
Ingrid, espero tudo de melhor pra ti, com a maior sinceridade. Espero que saibas que me ponho de vassala diante de qualquer problema. Por fim, ao lembrar de ti, lembro-me sempre da frase da minha mãe quando te conheceu: "Essa menina vai longe – que garra!". Ela tem toda razão.

Recomendação da Semana
Pachebel Rant:
Nossa, esse vídeo fez minha semana. Achei GENIAL! Basicamente um comediante reclamando como é ruim tocar o Canon em D de Johann Pachelbel no Cello, mas simplesmente sensacional!

(Clarissa, querida, obrigada por me passar algo tão divertido – gostei tanto que resolvi repartir aqui no Hipóbole. Espero que não se incomodes. E por favor, sinta-se bem vinda para escrever qualquer parágrafo aqui pro blog (isso vale pra ti também, srta. Juliana))

Resolvi mudar a coluna (sim!) e mudar de frase da semana para música da semana. A bola da vez é, com toda certeza, "The Escapist", da minha eterna banda favorita Nightwish, que agora trocou a cantora e voltou com seu sexto álbum – o mais caro em toda história da Finlândia – Dark Passion Play. Eu, como qualquer fã chata, estou odiando e esperneando pela volta da Tarja. A esperança é a última que morre, não?
Aliás, falando em Finlândia e abastacendo-te de cultura inútil diária, hoje é dia de independência da Finlândia. Então, prepare seu CD do Sibelius e comemore com uma sauna!

Até próxima semana, espero!