domingo, 27 de abril de 2008

O Conhecido

O conhecido tinha um nome
Mas não se sabia qual...
O conhecido despertou em mim um sentimento de nostalgia
Seus olhos me passavam algo misterioso e ao mesmo tempo amigável;
Ele não parecia surpreso, eu parecia, mas não sabia o motivo;
Sua face cansada parecia esperar de mim um abraço...um sorriso...
mas não pude dar...me contive;
De repente seus olhos fitaram-me friamente
Como se tivesse se decepcionado
E foi revelando-me um semblante melancólico...doído...
Meu coração apertou-se...
Já tinha visto aquilo antes...mas onde?
Ele carregava no dedo polegar um anel com uma inscrição, não pude ler;
Tive a sensação de algo perdido e passado...flores ao vento...
Mas minha expressão não seguiu o que o meu interior dizia;
Fiquei apática por um momento, gelada, intacta, ali parada;
Tentava dizer algo, mas meus lábios trancaram-se e senti um gosto amargo...de preço;
Ele que continuava a fitar-me como se fosse atravessar o meu corpo com seus olhos, deu um passo...mas não prosseguiu...e eu vi escorrer de seus olhos uma lágrima ardente...
Eu agora sentia nojo de mim mesma por não conseguir agir e acabar logo com aquilo...
De repente ouvi-o dizer meu nome
Lembrei-me daquela voz que um dia falava-me levemente e me encantava
E que um dia esteve confusa demais consigo mesmo
mas não conseguia admitir
E eu a deixei só em seu canto
E dias depois vi-me em prantos... mas atei-me ao meu medo
Naquele momento corri e o abracei e senti algo puro...algo que em toda a minha vida procurei e só agora encontrara...
Passei minhas mãos em seu rosto tentando decifrá-lo
Foi quando percebi a minha vida ali, diante de mim, intacta e parada no tempo.
Eu a havia parado...em um dia de dor...

domingo, 13 de abril de 2008

Ponto de vista

(Do Anedotário Diplomático)

Mantenham as tropas de manutenção de Paz.
Meu general é inglês,
Meu cozinheiro, francês.
O pagador é suiço
E a enfermeira, sueca.

Acabem com as tropas de manutenção de Paz.
Meu general é suiço,
O cozinheiro é inglês.
Meu pagador é francês;
A enfermeira, búlgara
(E se chama Bóris)

Títulos gregos

De todas as civilizações da antiguidade, uma que me irrita profundamente é a grega.
Orgulham-se de ter criado o raciocínio crítico e a filosofia? Pois também são responsáveis por uma das maiores religiões do mundo, politeísta, diga-se de passagem, e pelas idéias dos sofistas, que defendiam a persuasão pura e simples em detrimento da busca pelo conhecimento.
Mas devo admitir que há também uma pequena parcela de inveja em minha helenofobia. Inveja da facilidade que eles tinham na hora de escolher um título para seus livros.
Há algum tempo comecei a escrever um romance, parte do meu projeto cliché "tenha uma vida completa". Ficaria, então, faltando plantar uma árvore e ter um filho. O primeiro foi facilitado pela venda de créditos de carbono, seu correspondente pós-moderno. Quanto ao segundo, digamos que ainda é cedo.
Voltando ao livro, acredito que eu esteja próximo de sua metade. O tempo para escrever, no entanto, tem sido escasso desde o início das faculdades e, para criar a falsa ilusão de progresso, resolvi pensar num título. Trabalho frustrante esse, devo dizer, considerando que a humanidade já escreveu uma infinidade de livros com todo tipo de título que se pode imaginar.
Imagine-se, nesse momento, em um cenário ideal onde poucos livros foram escritos e, por incapacidade técnica, são muito pouco difundidos. Com tão poucas obras circulando, tudo que se escreve é novo, não há plágio e qualquer título escolhido será original.
Assim, caso você escreva um livro sobre uma república ideal, que o chame "A República". Conta a história de um banquete? "O Banquete" é a escolha certa. Uma epopéia sobre Odisseu pode ser chamada "Odisséia" e ainda assim ser considerada original. Sem falar de seus tratados sobre Moral, Política, Retórica e Poesia, que convenientemente serão chamados de "Grande Moral", "Política", "Retórica" e "Política". Para disfarçar, que dedique seu trabalho sobre Ética a seu filho e o intitule "Ética a Nicômaco".
Voltamos, dessa forma, à Grécia Antiga, onde até mesmo Platão e Aristóteles eram considerados   originais. Queria eu poder acabar com meus problemas da forma que os clássicos o faziam; mas caso eu chamasse meu livro de "Romance", seria chamado de idiota. Isso apenas porque não escrevi há mais de dois mil anos.
E tenho dito.

sábado, 12 de abril de 2008

Doença é existência

O vazio consome a essência...

O coração
Mais puro na bancada do anatômico
Que no tórax da bela moça
O tédio na raça humana
Tem origem clara:
O aprisionamento que as palavras trazem,
Às idéias, que não encontram

Liberdade
Confusão mental
Não é irresponsabilidade,
Nem falta de olhos para a Realidade
É percepção de um vasto Universo
Incapaz de ser organizado
E pela lógica,
Plenamente compreendido por um só ser...

Frustração
Não é descoberta do "tudo foi em vão"
Mas consciência da impotência
Denúncias cruéis
Enclausuradas
Em lábios selados,
pernas imóveis,
mãos paralisadas
Existências resignadas

Um Medo
De origem desconhecida,mas vísivel:
Consume últimas-esperanças
Perdidas através de Tempos imprecisos
Recentes presentes

O Tempo
Não mais que filho infante
Da Existência Universal
Consciência humana cria o Tempo
E ele é limite
De nossas consciências
Vivências
Sofrimento
Doença

Lucas O. Mourão

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Os olhos dos homens

À medida em que o tempo de minha vida se passou, aprendi mais com os homens do que esperava. Conheci muito a alma e as intenções dos meninos, e agora, numa idade quase adulta (tenho 18 anos), estou começando a entender os que amadureceram um pouco.
Quanto aos olhos, poderia dizer que estes mostram a diferença gritante entre um menino e um homem maduro. Os olhos dos meninos se mostram, por demasia, brincalhões e inquietos, por vezes meigos, porém com uma pitada de malícia da qual não escapa, na minha opinião, qualquer indivíduo. Os olhos dos meninos são transparentes e muito nítidos quanto a suas pretensões. E são, na teoria, mais agradáveis que os dos homens.
O olhar do homem é um espelho de enganação. As águas, antes cristalinas, ficam negras e turvas. Por vezes, o olhar pode mudar um pouco, mas apenas devido ao movimento sutil da face. Todos os olhares são mais penetrantes e carregados de significados, todos esses ainda obscuros para mim. Por serem penetrantes eles manipulam, machucam e confundem.
Sou o que as pessoas podem chamar de “romântica” por mais antiquado que isso pareça ser. E ainda acho que muitas mulheres são como eu, porém, não admitam para si mesmas. E, como todo o bom romântico, almejo compreender o sexo oposto.
Diversas vezes, me senti inquieta, me permiti desatar meus sentimentos e pensamentos e pensei (ingenuamente) que eles pudessem me direcionar para um relacionamento bom e agradável. Porém o amor está além de mim, independe apenas da minha ação ou da minha liberdade.Os homens devem querer agir.
E o fazem, é claro, mas raramente. Entretanto, não consegui, ainda, decifrar o que há de errado com alguns, e os olhos...principalmente os olhos dos homens.
Quero entendê-los, mas antes, defino os olhos como fonte de sinais. Sinais sobre o que eles pensam e sentem. Quero entendê-los não apenas para ter um par, mas para compreendê-los e conviver em harmonia com os indivíduos por que tenho tanto afeto.

AC

domingo, 6 de abril de 2008

Lembrança

Estranhas são as marcas que deixa o amor.
Em uns ficam o sorriso, as lembranças
Daqueles momentos.
Para outros resta a tristeza, o vazio
Que deixa a saudade.

Em meu pescoço
A paixão desenhou uma bota disforme.
(E em meus devaneios,
Eu penso:
-Como lembra a Itália!)