domingo, 27 de abril de 2008

O Conhecido

O conhecido tinha um nome
Mas não se sabia qual...
O conhecido despertou em mim um sentimento de nostalgia
Seus olhos me passavam algo misterioso e ao mesmo tempo amigável;
Ele não parecia surpreso, eu parecia, mas não sabia o motivo;
Sua face cansada parecia esperar de mim um abraço...um sorriso...
mas não pude dar...me contive;
De repente seus olhos fitaram-me friamente
Como se tivesse se decepcionado
E foi revelando-me um semblante melancólico...doído...
Meu coração apertou-se...
Já tinha visto aquilo antes...mas onde?
Ele carregava no dedo polegar um anel com uma inscrição, não pude ler;
Tive a sensação de algo perdido e passado...flores ao vento...
Mas minha expressão não seguiu o que o meu interior dizia;
Fiquei apática por um momento, gelada, intacta, ali parada;
Tentava dizer algo, mas meus lábios trancaram-se e senti um gosto amargo...de preço;
Ele que continuava a fitar-me como se fosse atravessar o meu corpo com seus olhos, deu um passo...mas não prosseguiu...e eu vi escorrer de seus olhos uma lágrima ardente...
Eu agora sentia nojo de mim mesma por não conseguir agir e acabar logo com aquilo...
De repente ouvi-o dizer meu nome
Lembrei-me daquela voz que um dia falava-me levemente e me encantava
E que um dia esteve confusa demais consigo mesmo
mas não conseguia admitir
E eu a deixei só em seu canto
E dias depois vi-me em prantos... mas atei-me ao meu medo
Naquele momento corri e o abracei e senti algo puro...algo que em toda a minha vida procurei e só agora encontrara...
Passei minhas mãos em seu rosto tentando decifrá-lo
Foi quando percebi a minha vida ali, diante de mim, intacta e parada no tempo.
Eu a havia parado...em um dia de dor...

domingo, 13 de abril de 2008

Ponto de vista

(Do Anedotário Diplomático)

Mantenham as tropas de manutenção de Paz.
Meu general é inglês,
Meu cozinheiro, francês.
O pagador é suiço
E a enfermeira, sueca.

Acabem com as tropas de manutenção de Paz.
Meu general é suiço,
O cozinheiro é inglês.
Meu pagador é francês;
A enfermeira, búlgara
(E se chama Bóris)

Títulos gregos

De todas as civilizações da antiguidade, uma que me irrita profundamente é a grega.
Orgulham-se de ter criado o raciocínio crítico e a filosofia? Pois também são responsáveis por uma das maiores religiões do mundo, politeísta, diga-se de passagem, e pelas idéias dos sofistas, que defendiam a persuasão pura e simples em detrimento da busca pelo conhecimento.
Mas devo admitir que há também uma pequena parcela de inveja em minha helenofobia. Inveja da facilidade que eles tinham na hora de escolher um título para seus livros.
Há algum tempo comecei a escrever um romance, parte do meu projeto cliché "tenha uma vida completa". Ficaria, então, faltando plantar uma árvore e ter um filho. O primeiro foi facilitado pela venda de créditos de carbono, seu correspondente pós-moderno. Quanto ao segundo, digamos que ainda é cedo.
Voltando ao livro, acredito que eu esteja próximo de sua metade. O tempo para escrever, no entanto, tem sido escasso desde o início das faculdades e, para criar a falsa ilusão de progresso, resolvi pensar num título. Trabalho frustrante esse, devo dizer, considerando que a humanidade já escreveu uma infinidade de livros com todo tipo de título que se pode imaginar.
Imagine-se, nesse momento, em um cenário ideal onde poucos livros foram escritos e, por incapacidade técnica, são muito pouco difundidos. Com tão poucas obras circulando, tudo que se escreve é novo, não há plágio e qualquer título escolhido será original.
Assim, caso você escreva um livro sobre uma república ideal, que o chame "A República". Conta a história de um banquete? "O Banquete" é a escolha certa. Uma epopéia sobre Odisseu pode ser chamada "Odisséia" e ainda assim ser considerada original. Sem falar de seus tratados sobre Moral, Política, Retórica e Poesia, que convenientemente serão chamados de "Grande Moral", "Política", "Retórica" e "Política". Para disfarçar, que dedique seu trabalho sobre Ética a seu filho e o intitule "Ética a Nicômaco".
Voltamos, dessa forma, à Grécia Antiga, onde até mesmo Platão e Aristóteles eram considerados   originais. Queria eu poder acabar com meus problemas da forma que os clássicos o faziam; mas caso eu chamasse meu livro de "Romance", seria chamado de idiota. Isso apenas porque não escrevi há mais de dois mil anos.
E tenho dito.

sábado, 12 de abril de 2008

Doença é existência

O vazio consome a essência...

O coração
Mais puro na bancada do anatômico
Que no tórax da bela moça
O tédio na raça humana
Tem origem clara:
O aprisionamento que as palavras trazem,
Às idéias, que não encontram

Liberdade
Confusão mental
Não é irresponsabilidade,
Nem falta de olhos para a Realidade
É percepção de um vasto Universo
Incapaz de ser organizado
E pela lógica,
Plenamente compreendido por um só ser...

Frustração
Não é descoberta do "tudo foi em vão"
Mas consciência da impotência
Denúncias cruéis
Enclausuradas
Em lábios selados,
pernas imóveis,
mãos paralisadas
Existências resignadas

Um Medo
De origem desconhecida,mas vísivel:
Consume últimas-esperanças
Perdidas através de Tempos imprecisos
Recentes presentes

O Tempo
Não mais que filho infante
Da Existência Universal
Consciência humana cria o Tempo
E ele é limite
De nossas consciências
Vivências
Sofrimento
Doença

Lucas O. Mourão

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Os olhos dos homens

À medida em que o tempo de minha vida se passou, aprendi mais com os homens do que esperava. Conheci muito a alma e as intenções dos meninos, e agora, numa idade quase adulta (tenho 18 anos), estou começando a entender os que amadureceram um pouco.
Quanto aos olhos, poderia dizer que estes mostram a diferença gritante entre um menino e um homem maduro. Os olhos dos meninos se mostram, por demasia, brincalhões e inquietos, por vezes meigos, porém com uma pitada de malícia da qual não escapa, na minha opinião, qualquer indivíduo. Os olhos dos meninos são transparentes e muito nítidos quanto a suas pretensões. E são, na teoria, mais agradáveis que os dos homens.
O olhar do homem é um espelho de enganação. As águas, antes cristalinas, ficam negras e turvas. Por vezes, o olhar pode mudar um pouco, mas apenas devido ao movimento sutil da face. Todos os olhares são mais penetrantes e carregados de significados, todos esses ainda obscuros para mim. Por serem penetrantes eles manipulam, machucam e confundem.
Sou o que as pessoas podem chamar de “romântica” por mais antiquado que isso pareça ser. E ainda acho que muitas mulheres são como eu, porém, não admitam para si mesmas. E, como todo o bom romântico, almejo compreender o sexo oposto.
Diversas vezes, me senti inquieta, me permiti desatar meus sentimentos e pensamentos e pensei (ingenuamente) que eles pudessem me direcionar para um relacionamento bom e agradável. Porém o amor está além de mim, independe apenas da minha ação ou da minha liberdade.Os homens devem querer agir.
E o fazem, é claro, mas raramente. Entretanto, não consegui, ainda, decifrar o que há de errado com alguns, e os olhos...principalmente os olhos dos homens.
Quero entendê-los, mas antes, defino os olhos como fonte de sinais. Sinais sobre o que eles pensam e sentem. Quero entendê-los não apenas para ter um par, mas para compreendê-los e conviver em harmonia com os indivíduos por que tenho tanto afeto.

AC

domingo, 6 de abril de 2008

Lembrança

Estranhas são as marcas que deixa o amor.
Em uns ficam o sorriso, as lembranças
Daqueles momentos.
Para outros resta a tristeza, o vazio
Que deixa a saudade.

Em meu pescoço
A paixão desenhou uma bota disforme.
(E em meus devaneios,
Eu penso:
-Como lembra a Itália!)

sexta-feira, 21 de março de 2008

Comunicado

Olá, meus amigos do Hipóbole!

Sinto-me obrigada a dar-lhes uma explicação racional para minha ausência nos últimos dias. O motivo gira em torno de minha monografia de conclusão de ensino técnico(laboratório) e do vestibular de medicina que estou prestes á fazer. Meu tempo tem sido canalizado para essas duas coisas apenas, e não me sobra tempo para escrever algo de qualidade para postar, assim como todos vcs o fazem. Eu me sentiria mal se continuasse a postar, somente por postar, ofertando-lhes toda segunda com algo qualquer...não acho justo, pois todos tentamos sempre não fazer isso. Então, comunico a vocês minha saída, pelo menos por um bom tempo das postagens ás segundas e deixo-lhes na liberdade para me substituírem, afinal de contas o blog continua.

E vida longa ao Hipóbole!
Ingrid Torres.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Minha querida

A Clarissa Maria

Isso não é uma rosa vermelha,
Uma declaração de amor,
Um soneto heróico
Ou o néctar de uma fina flor

Isso não é uma trova,
Uma serenata,
um prelúdio
Ou uma sonata

É cantiga de amigo,
É conversa sempre rendendo,
São versos de apreciação
E a vida correndo
Na contramão

Dona dos óculos, do verde
Dos caracóis.
Coração de Leão,
Dos milhares de sóis
Meu objeto de afeição

Sem o menor rigor
Eis minha sincera homenagem
Ao teu esplendor

Genial! Ou não... (9ª edição)

Nossa, ninguém mais posta desse blog! Resolvi então, aproveitando meu tempo livre do feriado, escrever um poeminha singelo, com rimas irregulares e versos, mais ainda. Nada como uma faculdade de exatas para drenar todo meu tempo de escrita. Agora eu só penso em números. Na verdade, pior, em letras aleatórias que tendem ao infinito ^^. Mesmo assim, vou tentar voltar a postar regularmente, já que o choque inicial com a faculdade já acabou. E encorajo a todos os colunistas a fazerem o mesmo.
Então, peço a todos mil desculpas e tomara que o blog ainda viva depois dessa pequena crise ^^.
Até próxima quinta!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Técnica

Os ares,os lugares, o alimento,o humorismo."A medicina é como
o amor,nela não há "nunca" nem "sempre".Compreenda seu meio, reconheça sua função.Na maior parte das vezes não há cura...O papel é mais amplo...
Não é apenas uma ciência, é um universo que muitos ignoram.É acordar cedo, ter que improvisar, mas nem por isso reclamar.Pelo contrário, é uma jornada.Uma eterna busca pelo conhecimento dos "monstros sagrados": Gray,Prometeus,Berne,Junqueira...E em meio a tanta
teoria, muitos se esquecem dos que possuem a técnica.Fruto da experiência de longos anos.
Encaram o grotesco com a naturalidade de idosos que conversam
na praça aos domingos.Tem respeito maior do que muitos profissionais
com anos de prática.Compreendem a alma humana, pelo convívio com a
morte.Já nem sabem que cheiro o formol possuí.Tem como rotina a arte da
dissecção, e prezam pela perfeição anatômica.Ensinam o que sabem, com
clareza em muito superior aos professores.
Se questionam, observam, se alimentam do convívio humano.Estão dessa forma se aprimorando à toda hora.Sabem que o cadáver, as peças
seccionadas, os fetos com deformidades podem ser "feios", mas possuem uma função nobre: servir de instrumento ao estudante( nos quais depositam certa esperança).
Pouco importam convenções do que seja "anomalia","monstruosidade",pode pular essa teoria!
É na prática que se aprende a profissão.
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Lucas O. Mourão

quarta-feira, 5 de março de 2008

Genial! Ou não... (8.5ª edição): Uma pequena nota

Imagino que muitos de vocês repararam que não postei semana passada. Isso tem um bom motivo, e vocês serão recompensados bem. Tentarei postar na sexta, se conseguir terminar o último texto, que é de uma complexidade bem grande, demanda bastante esforço e grandes doses de paciência. De qualquer forma, desculpem-me o inconveniente (principalmente aos meus colegas de blog).

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

sombras da Eternidade

Peço desculpas pelo atraso.
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As Casas
as de alvenaria
as de papelão
A pátria
Amarga
Cegamente subestimada

No escuro
O sofrimento não é visto
Mas nem por isso esquecido

No fundo da mente
História imemoriáveis
Nelas somos monstros
Nem por isso disformes
Monstros disfarçados
Vivendo

Pra nos convencermos
De nossa inocência
Procurando o alibi

Mas ele não existe
Nós não existimos
Somos sombras que temem
A tomada de consciência
Da invisibilidade
A perda da vontade

De acreditar
No que os olhos mostram,
E a mente interpreta

Imaginação aberta
(Dentro das possibilidades)
Salve a liberdade de expressão!
Liberdade mesmo
Só nos filmes
Por que a vida é bruta

Não há roteiros,
Só improvisos:
Acertos e quedas

E o Tempo
Criação humana
Que vive engolindo vidas
Encontros
Momentos simples e puros
Como folhas

Folhas de outono
Atravessando oceanos
Rumo aos sonhos que nunca alcançamos...

Eterno será o esquecimento

Lucas Olmo

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Fidel, al- Gaddafi e o número nove

O principal tópico discutido pelas páginas destinadas em revistas e jornais a política internacional essa semana, seguido pelo processo de independência kosovar, foi a renúncia de Fidel Castro dos postos de presidente e comandante-em-chefe das Forças Armadas de Cuba, postos que poderiam ser resumidos com o termo ditador. Mais impressionante que a saída do comandante, algo previsto e gradual desde o desenvolvimento de sua doença, é a forma como o assunto foi coberto por nossa mídia, orgulhosa de sua imparcialidade.

Quem for essa semana a qualquer banca de jornal poderá comparar as dissonantes matérias de duas das principais revistas semanais brasileiras. Enquanto uma publica “Já vai tarde” (“O fim melancólico do ditador que isolou Cuba e hipnotizou a esquerda durante 50 anos”; “Um pais de muito passado agora tem algum futuro”), a outra responde com “Cuba sem Fidel” (“O socialismo vai resistir”; “O legado, o futuro e o significado de Fidel Castro e da revolução”). As duas, vale lembrar, utilizam a mesma foto na capa. A renúncia e o processo que ocorrer a partir dela, independente de qual for, fomentam o debate sobre a ditadura e o culto à personalidade no século XXI.

Em todos meios de comunicação lembrou-se que Fidel era o ditador há mais tempo no poder (49 anos). Era. A primeira pergunta que me veio à cabeça foi qual déspota teria tomado tal título. Uma rápida pesquisa me levou ao nome do líbio al-Gaddafi, que detém o poder desde 1969 no país da bandeira de uma única cor. Uma outra inferência inútil a que a pesquisa me levou, essa ainda mais improfícua, é a propriedade cabalística do números terminados em 9 na história dos ditadores.

Uma rápida lista com os principais ditadores que tomaram o poder em anos com essa característica, considerando apenas o século passado, além de Fidel e Gaddafi inclui  o ucraniano Petliura (1919); Franco e o esloveno Josef Tizo (1939); Mao Tse Tung e Sukarno (1949); e Saddam Hussein (1979). Entre os depostos encontramos, além de diversos nomes desconhecidos, o vietnamita Ho Chi Minh (1969) e os africanos Idi Amin e Bokasa (1979). Também em anos terminados em 9 houve duas transições entre ditadores, a cubana de 1959 e a de Guiné, em 1979. Um personagem que merece destaque é o famoso Aiatolá Khomeini, que se manteve por dez anos no poder, entre 1979 e 1989. Ointenta e nove, por sinal, foi o ano com mais ditadores depostos num grupo que inclui não só o romeno, o polonês, o búlgaro e o da Alemanha Oriental, todos ligados ao Kremlin, mas também os latinos Manuel Noriega no Panamá e Alfredo Stroessner no Paraguai.

As ditaduras indubitavelmente marcaram a história do século XX, resistindo ainda em nosso século. Resta saber se permanecerá existindo em número considerável, como desejaria Kim Il-Sung, detentor do título de Presidente Eterno da República Democrática Popular da Coréia e morto em 1994, ou se a tendência é continuar diminuindo em quantidade. O ano chave para isso, dizem os numerólogos, é o próximo, 2009.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Jardim Botânico

Penumbra das árvores
Sobre as flores mais belas
Os sentimentos mais nobres
Sorriso fadado a sequelas

A inocência tropeçou
na intenção matreira
Balbuciou alegre
Som da cachoeira

A confusão se desfez
E foi a última gota
O vazio só ardia

Mas me afagaste os cabelos
Sorriste pra mim; me deste
Direito de ser humana

Quanto vale tua auto-estima?

Vamos celebrar
Por trinta segundo
E chorar o prazer perdido depois


Vamos dançar
Na névoa
E provar algo pra alguém


Vamos beber
Pra ficar de porre
E vomitar vantagem no dia seguinte


Vamos transar
Com tudo e todos
E não dar mais valor a nada


Vamos festejar
E só
O mundo que se dane

Genial! Ou não... (8ª edição)

Primeiro de tudo, desculpem-me por não ter postado semana passada como todos fizeram. Tive problemas técnicos que me incapacitaram de fazê-lo. Mas estou voltando de férias com poemas novos! Sim, mais lirismo comedido para vocês!
Essa semana foi um tanto complicada e só consegui trabalhar os dois poemas que posto aqui hoje. Mas semana que vem, tudo voltar ao normal, inclusive minha coluna. Minhas reflexões foram pobres e sem graças, e incluíam assuntos como: por que diabos o Jay-Z canta em Umbrella e o que significa "No clouds in my stone" poeticamente?
Boas vindas a todos e vida longa ao Hipóbole!

PS: Me orgulho de postar um soneto um tanto diferente no Hipobóle. Sem rigorosas métricas (mas tem alguma, sim), com rimas esporádicas e espontâneo, inseguro, nobre como um coração apaixonado. É só meu jeito de te dizer um sincero obrigada.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Da Solidão

“Em qualquer caso, a vida não é senão uma procissão de sombras, e sabe Deus por que as abraçamos tão avidamente e as vemos partir com tal angústia, já que não passam de sombras”.(Virgínia Woolf)

Os pensamentos às vezes destroem a gente, ainda mais naqueles dias em que tudo parece tão difícil, até mesmo responder a uma simples pergunta de um amigo seu como: “Você está bem?”. Mesmo que o olhar dele seja um olhar terno e preocupado. Nesses dias nem a mais linda criança tiraria de você um sorriso e o “por quê?” Nem mesmo você sabe, mas tem um pequeno palpite: solidão.
Está deitado na cama e olha para o teto, para os lados e sente o silêncio. Momentos em que nos afastamos (se possível), para que se ocorrer uma explosão de choro, você fique só. Ali no seu cantinho, sem que ninguém note que você está um lixo por dentro e que se batesse alguma brisinha, você cairia ao certo. De fato que ninguém resolveria o teu problema...Não...Mas talvez alguma conversa ajudasse...Porém a solidão fala mais alto.
O medo nos põe a milhas de distância de pessoas queridas e que deveriam estar perto e talvez elas estejam, mas nós não. Preferimos continuar com a angústia e sós. Encapsulamo-nos em nossa própria cabeça e aí está criada a máquina ambulante. Com sentimentos reprimidos e abafados, sem saber o que significa um abraço ou um beijo. Fechados e frios.
Seres dependentes, mas que não admitem. Seres orgulhosos, de narizes empinados e destruídos por dentro. Adeptos do “meu celular, meu computador, minha revista, meu livro, minha bolsa, minha caneta...” meu isso, meu aquilo. No ônibus a única coisa possível ao lado de tanta gente “estranha” é por o meu “egoísta” no ouvido. Vai-se o caminho todo esperando que o destino chegue, para que a separação “daquelas” pessoas seja certa.
E às vezes a vida dá uma segunda chance de sabermos o que é um amigo, e do que são feitas as pessoas e suas trajetórias...Às vezes não.
E se essas sombras são apenas coisas que passam, meio nebulosas, esfumaçadas, sem importância, será por que nós nunca as deixamos passar sem olhar para elas e sentir uma tristeza profunda, mesmo que em algumas vezes nunca as tenhamos experimentado?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Monoteísmo às avessas

Havendo tanto santo,
Suspendo minha reza
E aprendo esperanto.

Show de horrores

A incrível mulher barbada
E o engolidor de facas
Também pagam altos impostos.

Mudança

Seu coração era dobradiço.
Paixões ardentes,
Amor sem compromisso.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Caminhos e destinos

"Não!Não seguirei esse caminho
Que os outros me indicam com olhares suaves
e mãos estendidas"
Farei o meu próprio caminho
O da dignidade
Como podem eles saber o que fazer
Se a própria vida lhes é mistério
frustração
descrença
aparência
"Não!Seguirei meu caminho"
Mesmo sem saber o proposito
"é caminhando que se faz o caminho"
A Cada dia o "destino" nos guia
Mesmo que aleatoria, ordenadamente
Há ordem no caos
Esse é o perigo de se viver
Existência paradoxal
"em cada um há um macaco e um homem"
Antes a consciência do que existência animalesca
Há Verdade?
Ou seremos só ratos
querendo achar saídas em gaiolas
sem nem ao menos saber
o porquê de ir lá fora
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Lucas Olmo

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Poesia (é) Suja

Meu poema não tem rima
latrina, era uma palavra que eu poderia usar aqui
se usasse, rimaria
não usarei

Faço questão que o poema não tenha nenhuma fucking métrica
(a diferença aqui é que, mesmo que eu me esforçasse, não teria)

Já fiz soneto
ficou ruim
deu trabalho

Arte.
Que arte não diz nada????

Sentido surge na interpretação
mas só se interpreta o que é

Maçãs falácias gordas
raquetes conspirantes
psicotrópicos tropicais
matilhas clânicas estelares

Assim não dá.

De Pedro Salgado (do Blog Parede de Banheiro)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Aos Sebos!

Gosto de sempre que possível, após uma ida por algum motivo ao Centro, dar uma parada nos sebos. Dar honra a quem tem honra. Isso resume meu sentimento de ter que necessariamente dar nem que for uma “passadinha” lá. Mesmo que seja sem dinheiro e sem tempo.
Um lugarzinho aconchegante, com luzes amareladas, cheiro de livros velhos e arquitetura colonial já meio transfigurada pelo tempo. Lá você observa, lê, dá uma olhadinha, avalia o produto, avalia o preço e às vezes compra. Não. Ás vezes, não. Você sempre compra. Já que duas coisas lá são fundamentais. A ausência do irritante e demasiado “Posso ajudar... qualquer coisa meu nome é...”, o que faz com você tenha tempo de se sentir à vontade, intrigado e no fim apaixonado pelo ambiente e pelo dito cujo em suas mãos. Outra ausência é a do preço salgado, digamos assim... Daí meu preconceito contra as livrarias, onde tudo é maravilhoso e caro. No sebo tudo que é vendido “cabe no bolso” ou na sua carteira, ou até mesmo bolsinha de moedas. E se você ainda dá uma apertadinha aqui e ali no dinheiro compromissado que levou ao Centro, você ainda leva mais de um. Afinal, descontos lá não geram problemas e sim conversa.
Lugar ótimo para presentes quando você tem “aquele” amigo e não tem “aquele” dinheiro. Posso dizer por experiência própria. E variedades é o que mais se encontra: variedades de origem (já que são livros usados), variedades de preços e variedades de tipos.
Revistas também fazem parte do local desde as de quadrinhos até as da Playboy. E se você der uma sorte, ainda encontra alguns cds. Se eu pudesse rotular os sebos da Av. Passos, Trav. do Ouvidor, Rua Luiz de Camões e Rua da Constituição, apenas uma palavra serviria: “opção”. Lá você escolhe e melhor do que isso; pode levar o que escolheu.
Não me pediram uma propaganda pra iniciar a volta às férias, esperavam provavelmente uma crônica ou um conto, mas aí está meu texto singelo, com o intuito de como eu disse no início “Dar honra a quem tem honra”. Desejo que todos tenham uma ótima semana e que quando puderem (e estiverem no Centro), dêem uma passadinha no sebo.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Sociedade do Medo ( e do ridículo)

Até que ponto o cidadão comum conseguirá aguentar a acefalização construída pela cultura de massa?Talvez possa parecer uma pergunta exagerada, dramática.Afinal, se algum produto da midia não é bom podemos ignorá-lo, e ele deixará de existir.Certo? Gostaria de ainda pensar desse modo.Mas sinto que fui acordado,para um mal, que julgava controlável.Sim, sou só mais um, e não há muito que eu possa fazer para mudar a opinião ou mentalidade da população( chego até a achar pretensiosa essa tentativa, afinal não há como provar pela lógica a existência de um "certo"e um "errado").Disso já tinha me dado conta.Mas da gravidade desse emburrecimento coletivo... Não que isso lhe faça alguma diferença (deve soar inclusive enfadonho),mas hoje vi o pior filme da minha vida(sem exageros).Só para alertar os leitores, essa aberração cinematográfica se chama "coverfield- o monstro"(ou algo do tipo).Pra inicio de tristeza, basta dizer que essa "produção" não possuí sequer trilha sonora. Trata-se de uma ficcão,onde um amigo do personagem principal filma o invasão de um monstro que destrói Nova Iorque.Portanto o público assiste somente ao que foi gravado( em um camera digital caseira). Na saída ouvi pessoas dizendo que o filme "até que era bonzinho", mas "o final estraga".Final?Como uma produção sem enredo pode ter final?Não pretendo me extender muito mais sobre esse "filme".O que senti foi indignação, ao ver que a inteligência do público podia ser tão desrespeitada.Ouso dizer que um macaco o assistiria, e levaria a mesma coisa que um humano.Afinal só há cenas tentando instigar sentimentos primitivos, como o medo, o susto. Ou seja, essa desgraça que poderia ser chamada "sucessão de imagens",não é a única à solta por aí.Imagine que milhões vivem seus cotidianos se deparando com experiências semelhantemente vazias de propósito.Isso afeta a formação das crianças, a construção das personalidades, das aspirações,a subjetividade, a criatividade.É como um pano imenso, que venda as mentes dos individuos, incessantemente.Uma verdadeira lavagem cerebral, após a qual faremos,comentaremos,comeremos,pensaremos o ridiculo(crendo ser o natural,o correto). Não acredito que essa lavagem cerebral global faça parte de alguma teoria conspiratória com motivações ocultas.Como disse anteriormente não acredito que esse "emburrecimento global", essa ignorância do coletivo possa ser controlada por uma só pessoa ou organização.Claro,posso estar errado...Mas pensem bem...Não seria fantasioso demais? Acredito que muitos tentam tomar as redeas desse processo à seu favor, dentre os quais as empresas de comunicações e de entretenimento, e alguns governos.Muito provavelmente algumas dessas organizações se aproveitam da ignorância em beneficio próprio.Mas elas não tem controle dessa hiper-realidade. Estamos todos presos nessa maré de desconhecimento.A única diferença é que alguns já perceberam que nela estão,outros não. A solução?
Assim que souber aviso.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Inspiração

Não adianta negar, isso é fato.
Alguns dos melhores poemas,
Se escreve em papel higiênico ou em guardanapo.

Saudade

O Verão...
Fez-se Inverno
Interrompendo a Primavera.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Descoberta

A exclamação vinda do quarto recluso indicava a felicidade do velho cientista. Havia finalmente descoberto o elixir da vida e ganharia o tão sonhado Prêmio Nobel.
Restava, no entanto, uma dúvida. Como provar ainda em vida a eficácia da fórmula?

Trabalho Noturno

Há anos trabalhando no planetário, o astrônomo tinha como única função reclamar de como seu emprego era repetitivo. Isso até, num momento de genialidade ímpar, pedir transferência para o turno da noite.

Bagunça

Recém-chegada ao setor de física da universidade, a faxineira não fazia idéia do trabalho que teria pela frente. Estava encarregada do setor de entropia.

Contando em Miúdos

Descobri uma maneira de aumentar minha produção de textos, mesmo naqueles momentos em que não estou com a menor vontade de escrever ou me falta tempo. Quem sabe possa até passar a Luíza no número de postagens, ou ao menos tirar um pouco da vantagem.
É provável que você não esteja nada curioso sobre isso, mas como já comecei, vou continuar assim mesmo.
A resposta que encontrei foi... Contos Minimalistas.
Para que escrever em quatro páginas o que pode ser escrito em quatro linhas?
E para isso estreio hoje a série Contando em Miúdos, que já nasce com três fragmentos literários. A tendência, caso eu continue escrevendo nesse mesmo ritmo em que venho há mais que um mês, é que essa série de micro-textos aumente para compensá-lo.
Aliás, estou postando hoje apenas para dar uma atualizada no blog e porque talvez fique quatro semana sem fazê-lo, como já comentei domingo passado.

Abraços a todos e vida longa ao blog!