terça-feira, 6 de novembro de 2007

Discurso de Formatura.

Bom dia, pais, mestres, parentes, alunos, colegas, amigos. É uma honra estar aqui à frente de vocês discursando sobre aquilo a que dediquei grande parte de minha última década, o Colégio, e é com grande prazer que aqui o faço.
Hoje pela manhã, fui acordado bruscamente pela desagradável voz do meu despertador falante, e pensei: ‘’Puta que pariu, tenho que fazer o discurso. ’’. Talvez tenha sido o imenso nervosismo, ou o fato de não me achar bom o suficiente para estar aqui em cima, a razão de minha amnésia. Não importa. O fato é que já estava à uma hora do presente, e não havia nem pensado como começar o falatório.
Puxei a camisa social que estava estendida na cadeira, enfiei pelo pescoço a gravata com o nó previamente feito, pois honestamente, nunca me dei o trabalho de aprender esse tipo de coisa que farei pelo resto da vida. Até escovei os dentes, visto a ocasião especial.
Já estava saindo de casa quando me lembrei das calças. Nesse ponto decidi que se tratava de nervosismo. Agora só intensificado pela protela do discurso. Saí correndo para pegar o ônibus, já que minha família inteira decidiu viajar para Cancun e me deixar aqui sozinho. ‘’Você não pode ir com a gente! Tem que fazer seu discurso lembra?’’. Pelo jeito não.
No caminho para o ponto decidi o óbvio: Faria o discurso ‘’nas coxa’’ enquanto vinha para o colégio de ônibus.
Resolvi esperar o ônibus com ar, não queria chegar a minha última convivência colegial suado e ofegante, apesar de ter passado a maioria dessas convivências nesses estados. O ônibus chegou mais cedo do que esperava. Finalmente uma quebra na lei de Murphy que regia meu dia! Encarei isso como um sinal divino.
O discurso estava pronto para ser feito, quando pensei na dura realidade: Como fazer algo que deveria ter dedicado dias, em uma jornada de apenas trinta minutos? Eu li uma vez que a criatividade fluí melhor durante o pânico da véspera. Decidi crer no potencial humano. Resolvi começar. Senhoras e senhores, por onde?
Se tem algo que eu aprendi a fazer bem nesse colégio, foram provas. ‘’Na dúvida de uma questão, faça sempre por eliminação. ’’ Resolvi eliminar o que não devia falar aqui hoje, para assim começar a escrever.
Primeiro, um discurso deve ser algo universal, era melhor eu não falar sobre minha vida. Infelizmente agora percebo que é tarde demais. Segundo, não deveria demonstrar nervosismo. Falhei novamente. Achei que não seria de bom tom falar mal de matérias ou de professores, por mais que grande parte de minha alegria da formatura seja pelo fato de nunca mais ter que olhar para um Benzeno novamente, nem ter de ouvir o falatório monótono do mestre de Química. Droga, esse método não está funcionando.
Respira meu filho. Potencial humano se lembra? Retomando. Não deveria falar sobre a saudade hipócrita. Isso eu consegui. Acho que seria até legal jogar uma piada sobre isso. Ahem. ‘’Aposto que a saudade que sentiremos uns dos outros não é maior que a saudade das noites perdidas da véspera da prova de Física não?’’ HÁ!
Tudo se encaixava, a piada ajudou a aliviar minhas tensões. Tudo estava claro. O discurso estava escrito de leve no papel, só deveria reforçá-lo com minha letra.

Infelizmente senhoras e senhores, o ônibus havia acabado de chegar.

Muito Obrigado.