quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Quem me visitou? Eu?

De que serve um contador de visitas de um site? Deveria ser para que o dono do mesmo possa saber sua aceitação no universo da internet, não é mesmo?
Nessa mesma linha de raciocínio, poderíamos prever uma maior entrada do dono do site no próprio site para saber se ele é visitado com alguma freqüência.
Por causa disso alguém pensou: "Se eu vou entrar no site pra saber se alguém entrou nele, então eu terei sido uma pessoa que entrou no site! Assim, como posso saber o número de visitantes se eu acabo sendo um visitante, mas um visitante que não serve para meus cálculos de freqüência de visitantes?
Deste modo, a pessoa acima citada criou o contador de visitas de visitantes únicos para que possa entrar no próprio site sem alterar a visitação dos visitantes esperados.
Entretanto, não só de pessoas como o nosso amigo inventor que o mundo é feito e, por isso, ainda existem pessoas que usam o contador de visitas original no qual o visitante dono do site é contado como um visitante do site e cada vez que ele abre sua página tornando-se um novo visitante para o não muito inteligente contador de visitas.
Qual será o motivo para as pessoas não usarem a invenção do inventor que não queria ser contado como visitante do próprio site (afinal, ninguém visita a própria casa)? Será um modo de manipular os verdadeiros visitantes fingindo o site ser visitado por mais gente do que realmente é? Será que isso funciona?
A meu ver, poderíamos ter duas vertentes para responder a última pergunta: a primeira seria que as pessoas ficariam impressionadas pelo grande número de visitantes ao site que está visitando no momento e com isso, divulgá-lo-ia a mais pessoas, aumentando consideravelmente o número de visitantes verdadeiros. A segunda resposta seria que as pessoas são minimamente inteligentes e perceberiam que o contador de visita registra visitantes falsos, ou seja, o(s) dono(s) do site e, com isso diminuiriam seu gosto por tudo que está presente na tal página da internet com contador dos visitantes falsos.
Considerando apenas a primeira resposta, poderíamos dizer que essa é uma excelente estratégia que funciona melhor que um mapa da cidade com alfinetes coloridos para apontar alvos de possíveis leitores do site que procura leitores. No entanto, a estratégia tem um problema: Como o dono do site saberá o número real de visitantes novos que entrarão no site por causa da estratégia se o contador não conta o número real? Uma possível solução seria instalar um outro contador, sendo este outro um contador de visitantes verdadeiros.
Agora, com um segundo contador, o dono do site que quer que seus visitantes sejam contados pode saber quantas pessoas o visitam, mas como toda tese gera uma antítese, que juntas geram uma síntese, vemos que o segundo contador anularia a função do primeiro, já que as pessoas perceberiam que estão sendo enganadas e a farsa seria descoberta.
Depois de todo esse monólogo repetitivo, eu diria que tenho uma real solução para quem quer contar os visitantes do próprio site sem querer enganá-los com falsos visitantes. Esta solução é tão boa que poderia dizer que é uma síntese que dispensa qualquer tipo de antítese: Use um contador de visitas que marca cada visitante como apenas um visitante, mesmo que este entre seguidas vezes no site para parecer mais de uma pessoa.

Uma homenagem a Hipóbole Conjugada (e seu contador falso)

João Bernardo (do Blog Manifesto Metalúrgico)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Hipóbole se vendeu para o Grande Capital.

Na verdade, nem era tão grande assim, tava mais pra um médio capital... Bom, pra mim já é o suficiente, nunca me apeguei muito a valores ideológicos mesmo.
E isso tudo atendendo à pedidos, pois em apenas duas semanas de existência o Hipóbole recebeu mais de 400 e-mails pedindo produtos baratos para satisfazer o vazio na vida de alguns leitores. E qual a melhor maneira de preencher aquele vazio existencial do que gastando em coisas estúpidas?!
Pensando nisso nós, flagelos do sistema capitalista, vendemos muitas idéias dos diversos artigos do blog para uma empresa impiedosa fazer camisas! Isso mesmo, camisas! Vale a pena lembrar que 20% do lucro obtido na venda das camisas vai para uma instituição que ajuda as crianças que as confeccionaram.

Sem mais delongas no link logo abaixo estão as camisas originais do Hipóbole!(que não foram feitas em 5 minutos no paint, como espalham alguns boatos)

Camisas Yeah!

E é claro, com opção da cor preta para os pseudo-grunges e afins.

Longa vida ao Hipóbole $$!

Sobre Fluxo de Consciência(e algumas passagens sobre a oitava série).

Fiquei devendo um texto infame e infantil, e aqui o apresento com prazer, e dedicatórias a uma certa hóspede belo-horizontina, que me inspirou em parte a faze-lo com a seguinte frase: ''Havendo opção entre o comentário infantil e idiota e o sério e profundo, SEMPRE a primeira opção.''
Fluxo de Consciência. Sabe o que é? É uma espécie de técnica que analistas usam pra dizer que você é maluco. Também é uma técnica bastante interessante de escrita, registrada na obra de Clarice Lispector. Como funciona? Pense em um assunto. Vou te ajudar. Química. Agora é só falar tudo que vem a cabeça sobre tal assunto. Não precisa praticar isso, não agora, até onde eu sei não é saudável ficar falando sozinho.
Prova, 55, metano, etano, etil, carbono, bastão, aroma.
Isso foi o que veio a minha cabeça. É claro que Química é um assunto ligeiramente banal, e não virão muitos pensamentos mais complexos que esses citados, mas agora eu proponho outro assunto.
Oitava Série.
Babaquice. Época negra. Ridículo. Camisas pretas.14 anos.
Seus pensamentos provavelmente foram próximos a isso. Se não, pense mais a fundo.A oitava série é uma época ruim para todos. Todo mundo é babaca na oitava série. Tomando meu exemplo, por que eu sou assim, auto-centrado mesmo: Na oitava série eu era um daqueles metaleiros malvadões, camisa preta, ouvindo bandas pesadas, ouvia Metallica e achava que era a coisa mais brutal. Dava tudo pra ter algum pingente de pentagrama, falava que eu era filho de satã e queria queimar igrejas. Hoje em dia eu sou cristão.
Tá meu caso é extremo, mas citemos algum outro, também sou assim, gosto de difamar, e esse eu faço questão de cantar o santo. Marco Sá. O cara de dois posts abaixo se lembra? Conto do diplomata? Poema sujo? Pois é. Eu tive o inenarrável prazer de conhecê-lo durante o período oitaviano. Ele não era esse intelectual pernóico que alegra nossos domingos. Longe disso. Era um anarco-punk sindicalista, seja lá o que fosse isso. Só ouvia as bandas mais undergrounds que desafiavam o sistema, com aquele característico ‘’A’’ da anarquia, e é claro, seguindo o padrão das camisas pretas. Pois é, o nome disso é oitava série.
Passei por uma pesquisa intensiva essa semana para saber sobre o tal período, e se minha tese estava certa, segue aqui alguns trechos de entrevistas que eu fiz e, até onde a memória vai, retratadas exatamente da maneira com que foram ditas.
‘’Putz! Oitava série! Eu era um babaca! Era meio pseudo-grunge saca? Camisa de flanela, muito nirvana...’’
’’Fiquei tão traumatizado que hoje em dia nem passo mais na frente de uma sala de oitava.’’
’’Eu ficava pesquisando sobre bandas underground, quanto mais tosco melhor, só vinha lixo, eu achava o máximo hahaha.’’
Alguém pode questionar: ‘’Mas Vitor! As pessoas são assim por que 14 anos é uma idade propensa a esses distúrbios de comportamento e a essa imaturidade!’’. Não. Não. Não! Tá errado! É assim por que é a oitava série! Tem toda uma mística relacionada à série. Alguém pode reprovar 4 vezes a oitava série, cursa-la com 18 anos, que vai continuar a mesma pessoa de 4 anos atrás. Mais exemplos para a tese:
A garota dessa foto: provavelmnete ela tirou essa foto na oitava série. O que será dela hoje? Provavelmente cursando história, ou direito, quer seguir a carreira acadêmica, não sei.
Esse grupo de jovens provavelmente juntaram essa banda para tocarem no sarau de formatura da oitava série. Imagino que hoje em dia o da direita seja graduado em ciências atuariais, o do meio um pai honesto de família, com dois filhos saudáveis, o cabeludo sombrio da esquerda é veterinário, aposto.
Já estou me estendendo nesse assunto ridículo a muito tempo, só tenho o intuito de provar minha tese. Oitava série é o período mais negro de todos. Mas antes de fechar, queria lembrar algo curioso. Ano passado, foi aprovada uma lei que cria uma nova série, a nona, e para não atrasar a vida dos alunos, todos pularam uma série para se adaptar ao novo sistema. Isso mesmo, o que estavam na sétima, que deveriam ir para a oitava, pularam direto para a nona. Pularam. A Época negra. O momento ruim. Sortudos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Pano Velho

Esse pano velho
Tantas vezes remendado
heterogêneo, um pouco esgarçado
Esse pano já sem cor, sem vida;
Neste pano que veste duas almas
estão inscrustados pequenos diamantes
pequenas sobras de felicidade
alguns vestígios de trsiteza...
Esse pano
que não se sabe ao certo o que é:
Uma blusa, um casaco, um vestido;
Um pano informe...
Apenas velho. Um pouco encardido;
Pano imaterial, insólito, reluzente
Pano que depois de algum tempo
foi esquecido, perdeu sua força
Esse torto a
m
o
r
Que não veste, não cobra, não completa
Se limita. Existe.

Justificativa...

Na verdade esse perágrafo é só para aqueles que esperavam algo meu óntem(assim como fazem com todos os colunistas). Tive um surto e apaguei durante 9hs após a chegada do colégio na segunda...enfim...o texto estava pronto mas não o enviei...na verdade é um humilde poema que escrevi numa das "rodas-vivas" da minha vida. Espero compartilhar com todos esta experiência e que cada um atribua ao mesmo sua própria interpretação. Afinal, pra que serve a Literatura?

domingo, 28 de outubro de 2007

A entrevista (do anedotário diplomático)

Diplomata em início de carreira, havia sido escalado para sua primeira representação em um consulado de relativa importância, o de Roterdã. Logo após a apresentação de credenciais, foi convidado a dar uma entrevista a um dos mais importantes jornais da cidade, como o definiu a representante do periódico. Talvez por inexperiência, talvez na tentativa de mostrar polidez, logo aceitou, sendo marcado o encontro para o dia seguinte em seu escritório.
Perguntou-se o porquê de um jornal de renome demonstrar interesse em um terceiro-secretário recém-chegado ao país. Uma rápida pesquisa, no entanto, teria o feito descobrir a fama de menos escrupuloso tablóide do país que aquele possuía. Já os editores do folhetim, não se importavam com o fato de não ser importante o entrevistado. “Apresentaremos ele como cônsul brasileiro. Vocês sabem que diplomata é sempre visto como importante; e nossos leitores adoram matérias sobre países como o Brasil” foi o argumento utilizado pela idealizadora da matéria para garantir que fosse aprovada.
Na data marcada, chegou a repórter à casa do brasileiro, com um atraso de quarenta minutos. “Não estou na Suíça ou na Inglaterra, era de se esperar...”, pensou. Estranhou, é verdade, o rosto amassado de quem levanta da cama e a maneira largada de se vestir da jovem repórter, “mas e daí? Jornalistas são assim mesmo, e os holandeses são famosos por serem liberais”. Aperto de mãos, bloco em punho, máquina gravando. Poderia ter início a entrevista.
Seguiu-se uma série de perguntas a respeito do país do entrevistado. As praias, o futebol, a caipirinha, o povo, as mulheres, enfim, vários eram os assuntos, mesmo que nenhum diretamente relacionado a política internacional. Questionou-se sobre a razão de tudo aquilo, afinal não poderia falar sobre os planos do Brasil para a região ou apresentar o festival de cultura brasileira que viria a ocorrer na semana seguinte.
Em seguida, houve perguntas sobre a prática da diplomacia. Não que fossem relevantes, ou ao menos interessantes; na verdade pareciam ser feitas para a coluna social. Mas, pensando bem, não tratavam de estereótipos de seu país-natal. A certa altura defrontou-se com uma pergunta que mudaria a história daquela entrevista.
-Senhor cônsul-ela insistia em chamá-lo assim -como você lida com aqueles diplomatas que insistem em gastar seu tempo com intermináveis conversas?
-Interessante pergunta... Quando a fizeram a Bismarck, ele disse que pedia a um funcionário que interrompesse dizendo que sua mulher tinha algo importante a dizer.
“Uma boa resposta”, orgulhou-se. E ainda deu-lhe uma idéia. A isso procederam diversas perguntas sobre os Países Baixos. Deveria ter melhor se preparado antes de assumir o cargo. De qualquer maneira, não havia como estar preparado para a pergunta seguinte, que viria a ser a última.
-O que o senhor acha sobre os famosos prostíbulos holandeses?
-Há prostíbulos por aqui?- perguntou assustado.
Tão desagradável situação viria a ser interrompida por uma secretária do consulado, que vinha lembrar de uma importante reunião. Incomodada pela repentina interrupção, a jornalista se despediu com a sensação de que havia sido enganada.No dia seguinte, todas as bancas de jornal holandesas avisavam aos que passavam, em letras garrafais: RECÉM-CHEGADO, CÔNSUL BRASILEIRO PERGUNTA SOBRE OS PROSTÍBULOS HOLANDESES.

Nizza

(Em resposta ao desafio proposto pela Luíza na quinta-feira, não vou escrever um texto longo como ela fez; apenas postarei meu poema-resposta com métrica e rimas)

À vista de tais três listras que, expostas,
Estavam ante a vitrine transluzente,
O prazer daqueles que encontram respostas
Foi o que senti e também toda gente.

Teria o feito enamorado artesão?
Ou máquinas de uma linha de montagem?
Um argentino, que pr’a garantir o seu pão,
Trabalha pr'o burguês que tira vantagem.

E o verde do pano lembrava a floresta,
O que não fazia, no entanto, sua sola
Cuja borracha era, sabemos, sintética.

Tão belas costuras, com padrão cosidas.
Perfeita és a linha que envolve tal obra
De arte que vejo, meus tênis Adidas

Duas semanas que passam

_Já mais que uma vez perguntaram o que significa hipóbole. Até semana passada eu também não sabia, era só um neologismo nosso, mas descobriram um significado para ela: Refutação antecipada de objeções, sinônimo de silepse (créditos a Antônio Sá). Em nossa concepção, hipóbole também era uma figura de linguagem, mas consistia numa variação de hipérbole em que o exagero é negativo.
_Saúdo nosso mais novo concorrente, o Manifesto Metalúrgico. Desejo boa sorte a eles com suas estratégias para roubar nossos leitores, seus mapas e seus alfinetes coloridos. Um blog de e para pedreiros, como eles mesmos dizem. Espero desde já sua série de poesia concreta.
_Por que não levam essa tal de Cow Parade para a Índia? Afinal, já há muito não ocorre um festival de arte sacra por lá.
_ Até mais, e boa sorte aos que fazem PUC quinta-feira. Preparem-se, pois semana que vem o Hipóbole Conjugada estreará algo inédito em matéria de blogs.

sábado, 27 de outubro de 2007

A Quase-galinha

A Quase-galinha



Tinha a memória curta.Vivia, disso sabia.Mas,… o que era mesmo que ela sabia?…Se esquecia tão rápido,talvez por isso não aprendesse...Mas de que importa a ela saber das verdades (ou mentiras) do mundo?Afinal, está aprisionada.Seu campo de visão é limitado,sua comida é seca e insossa,sua água tem gosto de cloro,sua percepção é confusa.Mas nada disso a faz sofrer.
Quem dera todos nós pudéssemos aprender a ser gratos pelo que temos, pacientes e persistentes como ela.Se você lê isso em uma tela de computador, infelizmente, está minimamente anestesiado.Dificilmente reflete sobre o valor desse privilégio, e de tantos outros.Se você não se sente grato pelo que sua liberdade lhe dá acesso, não possuí dimensão dos abismos de que foi poupado.
Mas voltemos a ela.Era anômala.Causava estranhamento, mas nem por isso era infeliz.Uma Quase-galinha.Nem grande demais, a ponto de ter o volume de uma galinha, nem pequena de menos, para ter o corpo de uma sabiá.O dono garantia se tratar de uma sabiá saudável, e por isso Geraldo a comprou.Mas quando chegou em casa: a gaiola era pequena de mais.Mas que se há de fazer?Ela continuou habitando a mesma gaiola,por dias e noites.As opções eram limitadas:comer, beber água, olhar pra um lado e pro outro,dar dois passos, quase-abrir as asas, dormir. “E no dia seguinte?” Mas que dia seguinte o quê?Não se lembra que ela não se lembra?Nunca havia dia seguinte.Era sempre o agora.Talvez por isso sofresse menos, mas só talvez...
Se fosse humana ia começar a se incomodar com as gorduras que se acumulavam, devido à sua precária atividade física.Mas era uma Quase-galinha, e nada a incomodava.Não percebia que crescia a cada dia que passava, e seus movimentos eram cada vez mais limitados.Era sempre o agora: “Oh, que lindo verde à minha frente, que lindo azul”. E 2 segundos depois: “Oh, que lindo verde à minha frente, que lindo azul”.Existia.E por ser única, tinha a sua beleza aos que a observavam.
Mas um dia...Por descuido o dono deixou a trava da portinhola da gaiola aberta.Um sopro de vento, e a liberdade sugava com seus tentáculos a Quase-galinha.Saiu.Sem ser vista ainda por cima!Voou para o galho mais próximo, e ficou fazendo o que sabia fazer: nada.O dono chegou, ficou aflito.Começou a caçada pela nossa heroína.
Inacreditável!Quase-galinha 1 X 0 Geraldo .
Ficou abatido pelo cansaço, desistiu.Como voava para um pássaro tão gordo.E ela voltou ao galho.Parada.Parada.Parada.Parada.Parada.“O que será aquela caixa de metal vazada?” Parada.Parada.Parada “Quem é aquele homem ofegante”.Parada. “Fome” Parada.Parada.Parada.Parada. “Hum!Comida na caixa vazada!” Voou de volta.Geraldo correu, conseguiu trancá-la.E ela? Nem teve tempo de se lamentar,esqueceu.Estava era feliz em saciar sua fome.
Talvez o leitor esteja triste pela Quase-galinha.Mas talvez a liberdade fosse grandiosa de mais para ela.Se servir de consolo, pense que ela já esqueceu.


Lucas O. Mourão

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Duelo Literário

A uns dias atrás, travei uma disputa com o núcleo modernista-babaca do blog, ao discutir sobre o parnasianismo. Como qualquer modernista de 1ª geração, cuspiu no parnasianismo de forma inaceitável, pelo menos a meu ver. Malditos pseudo-pensadores que redupiam tudo que veio antes, sem reconhecer seu mérito e sua importância. A partir daí, formou-se uma paz armada: métrica ou verso livre? Rimas ou versos brancos? Cotidiano ou arte sobre a arte?
Obviamente, não pude deixar o humor de lado e acabei exagerando um pouco, falando que a inveja que ele sentia de parnasianos e neo-parnasianos era fruto de falta de mulher (opa, acho que isso me deixa em uma situação complicada...) e que por isso deveria se utilizar de insultos para se sentir superior – esse sentimento é devastador e não leva a nada, passe logo para a 2ª geração, meu caro.
Decidimos isso com um desafio para cada um: desafiei-o a utilizar o formato de soneto, métrica e rimas, com temática livre; e obviamente, recebi em troca o mesmo desafio, só que invertido – tema parnasiano e versos livres. Dia seguinte, encontro-o com um belo sorriso sarcástico estampado, e me contas sua idéia. Frente à colocação, eis minha resposta (que obteve ajuda do Kendo, obrigada, menino!):
_____
Minutos Modernosos

A Alberto de Oliveira

Sento na mesa, pena na mão
Idéias vem, idéias vão
Nenhuma fixa no papel
Desisto
Esse negócio de escrever é mais difícil que parece

Associação Livre

Verde, vermelho, óculos
Olho, inveja, perversidade, desvio
Bifurcação, sinal, hieróglifo

Pirâmides, escravos, 1888, ouro
Inconfidência mineira, baiana, carioca
Idiota, infame, infantil, fragilizado

Frágil, fadiga, cansaço, preguiça, Macunaíma
Cocaína, hum... citosina
Biologia, Ana Maria, Mariana, hum... Manuel
Mário, Carlos, Raimundo, solução, problema

- E aí, Dr. Freud, o que o senhor me diz?

____
Créditos para D. Juliana (Jota, como ela mesmo prefere) que me deu a palavra de início, verde

Genial! Ou não... (2ª edição)

Decidi tornar essa parte da coluna um "best of" dos meus fluxos de consciência da semana, além de recomendações em geral:
Mas primeiro, a frase da semana (que não foi dita essa semana, mas não tem problema):
"Behead those who say Islam is a violent religion" – Cortem as cabeças de quem diz que o islamismo é uma religião violenta. (Cartaz de um manifesto islâmico na Grã-Bretanha)

Me senti inspirada para escrever, nessa parte, algo sobre meu livro de leitura atual (pelo menos um dos), o polêmico Deus, um Delírio, de Richard Dawkins. Por mais que tudo que o Dawkins fala faça algum sentido lógico, não consigo pensar que a ciência tem algum tipo de direito de intervir na religião (ou vice-versa, já que também não aprovo a religião contendo a ciência). Minha posição sobre isso: agnosticismo permanente, que Dawkins faz questão de insultar no subtítulo: "a pobreza do agnosticismo", usando como justificativa a assimetria das probabilidades da existência e não-existência de Deus. Não aprovo muito esse argumento e a radicalidade de Dawkins, mas pelo menos, tem uma coerência e exibe seu ponto com uma clareza inacreditável.
Algo que também jamais hei de concordar é sua vontade inexplicável de desafiar religiosos em geral. Fé não é algo questionável, é pessoal e intrasferível, além de não ser racional de forma alguma. Lembro sempre do meu tio, um matemático incrivelmente racional, falando: "é quase romântico uma pessoa achar que vai mudar a outra". Não poderia concordar mais com ele, o que me faz desaprovar a postura de Dawkins por definição.
Mas, enfim, um dia escrevo mais sobre isso, já me estendi muito, desculpem.

A minha primeira recomendação é do livro dele mesmo e só é recomendada a pessoas tolerantes a brincadeiras com religião. Por favor, não ouse entrar se esse não for o caso e também note que esse não é meu ponto de vista nem o de ninguém aqui, são apenas piadas ateístas: http://www.godlessgeeks.com/LINKS/Humor.html

A segunda é mais neutra, mais profunda e mais perto. E tem rimas. Sim, é um poema dos nossos associados do Psicodelia, "O Homem das Palavras", de Antonio Carlos Vilela.

A terceira é também neutra, bem humorada e satírica, do site The Onion, uma paródia incrivelmente bem feita de um jornal, com notícias absolutamente surreais. Pra quem quer fazer um test-drive, recomendo essa daqui: http://www.theonion.com/content/node/30767

Até semana que vem!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Primeiras faces do monumento

Acho que ninguém esperava essa.
Afinal, qual não foi minha surpresa ao abrir o email do Hipóbole e encontrar textos para serem postados hoje. E que surpresa agradável, devo admitir! Decidi até escrever essas poucas linhas de introdução à coluna para exprimir minha alegria e agradecer a Kendo por ter reforçado o ponto com o texto de ontem.

Mas além do texto principal, recebemos também algumas linhas do Felipe Areias, que não cabem num post isolado, mas merecem menção:
"Aposto que meu texto vai ser utilizado porque nem um blog alternativo (ainda mais um com pouco mais de uma semana de vida) conseguiria criar uma boa concorrência de textos... A não ser que o blog inclua fotos pornográficas em seus posts.
Como ainda não achei o tal conteúdo pornográfico, fica aqui o texto pequeno que todo blog de precisa para chamar de modernista."


Se não encontraste nenhum conteúdo pornográfico, Felipe, recomendo que leias novamente o texto do Marco do domingo passado. Sobre fotos, acho que podes encontrá-las sozinho, em outro lugar.

Finalmente, devo gratidão ao nosso colunista convidado, Lucas Cassol Gonçalves, cujo texto, Laranjas, inaugura a coluna a seguir.

Laranjas

Como procrastinar tamanha indiferença observando a imbecilidade em meio a nebulosos tormentos coadjuvantes que nos rodeiam neste império babilônico?
Acreditaram “eles” que todos ficariam submersos neste lamaçal inconseqüente até o final dos dias, ou então que a pequena parcela permaneceria calada apenas condicionada ao marasmo das obrigações momentâneas. Enganaram-se, ao esquecer que uma laranja boa pode/deve - e nisto tenho concreta certeza, contrariando os ditos populares - mesmo que por osmose tornar as outras laranjas ao menos um pouco “melhores”.
Contando os fragmentos que estão soltos pela terra, podemos ver um claro grupo se formando sorrateiramente, nem tão subliminar a ponto de ser desconsiderado nem tão chamativo a ponto de se tornar preocupação.
Pensantes sonâmbulos.Começando a se agrupar (entenda-se alinhar) com uma força regente maior, algo poético, quase “divino” que nem atrevo-me a entrar em detalhes, visto que esse texto tem um cunho muito mais elucidativo-prático do que propriamente influenciável misticamente (oceano divisório de tantas sociedades e filosofias). Entretanto quando todos estiverem aptos para tal “iluminação”, este tema obviamente tornar-se-á impossível sem a devida introdução aos antigos ensinamentos.
Retornando ao assunto principal, dizia que todos estão sinceramente coniventes com a situação que encaminha-se para o ponto crítico inflamável na qual estamos inseridos, padecemos inebriados aguardando uma modificação social, uma tomada de decisão dinâmica, uma revolución no estilo pseudo-socialista, algo que nos tire da zona de conforto indestrutível. Vejo que apesar de tudo, uma nova quebra generalizada mundial tende para o fortalecimento humanitário, - utópica conclusão quando integrada ao realismo egóico que beira a insensatez que nos aflige - porem estamos em uma era de máquinas, já não mais de lutas corpo a corpo, de manipulação instantânea e avassaladora (mesmo imperceptível aos olhos, ela carrega a todos de maneira física e principalmente psicológica). “É hora de recolher os brinquedos”.
Embasado neste denso cenário atual, e devido ao aumento exponencial da desigualdade, gerando assim uma revolta no centro consumista do magma capitalista, que conseqüentemente chego a seguinte visualização: Caos. Mas enxergo além dessa míope perspectiva, faço as projeções para o pós-caos, quando todo os valores materiais, crenças e apegos serão inúteis, pois nada mais será útil num ambiente hostil onde só a cooperação será válida entre os homens desorientados pelas chagas (observem o cenário atual).
Por exemplo, flutuamos na falsidade denominada: “Preservação Ambiental” esse modismo hipócrita midiático, que agora (justamente) vêem nos cobrar o que deveríamos ter feito a muito tempo atrás, na verdade é só mais um reflexo do desrespeito e imediatismo humano. Para os desavisados, peço-lhes gentilmente que pesquisem com cuidado sobre os seguintes temas: ONGs, Hiper-faturamento, Cooperativa, Tributos, e Incentivos. Adianto tratar-se de simples arrecadação meus caros amigos, alias, temos o mágico poder de transformar soluções que serviriam para melhorar a qualidade de vida de todos, em mais um meio de acumulo ilícito de capital. Beng! Sempre direto ao ponto.

Lucas Cassol Gonçalves

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sobre Química.

Hoje eu iria postar algo infame e infantil, e conseqüentemente engraçado. Se você queria algo com uma dessas características, volte semana que vem, prometo todas essas características no post de semana que vem. Fui tomado por um ímpeto, ontem, após estudar umas 4 horas de química para a prova de hoje, de escrever algo sobre química. É uma matéria que repudio, e falo isso correndo o risco de insultar 4/6 da minha equipe de colunistas que adoram essa matéria. Nada mais justo que explicar o porquê.
Você gosta de ser enganado? Química é isso. Nada que aprendemos é o que realmente é. Não existem letrinhas que se juntam a outras com setinhas, não existem bolinhas, o benzeno não é um hexágono perfeito com um círculo no meio. As reações reais são infinitamente mais complexas do que as que nos ensinam. Me lembro de uma música amadora que um amigo fez para protestar contra isso, o refrão dizia assim: ‘’Química subliminar/ Faz você acreditar/ No que vão te ensinar.’’
Entretanto, só existem dois modos de descobrir essas coisas: Cursando química em alguma faculdade, ou através de estudo próprio, curioso, e muito extensivo, soma que torna essa opção quase inviável.
Mas é preciso saber mesmo como essas coisas funcionam? Pense bem, na terceira série, quando aprendemos sobre a Conjuração Mineira, vemos que Tiradentes foi um grande herói nacional, que morreu com ideais revolucionários, por todos os outros inconfidentes. Entretanto ao chegarmos ao ensino médio, é dito que Tiradentes morreu como um bode-espiatório, para livrar os outros inconfidentes que possuíam muito mais riquezas e poder que ele. Seria certo jamais descobrirmos a verdade sobre o nosso suposto herói? Pois é, grande parte de nós jamais descobrirá sobre os verdadeiros processos da química. Ficaremos para sempre como um filho adotado, que na adolescência descobre, por descuido ou revelação tardia dos guardiões, que na verdade jamais chegou a conviver com seus pais biológicos, e que passará o resto dos dias se indagando da sua verdadeira origem. Agora vejamos a segunda opção, o estudo intensivo.
Existem duas vias principais para se atingir a felicidade na vida, a da ignorância, ou inocência, e a do saber. A da ignorância se baseia basicamente em jamais questionar o mundo à sua volta, sempre aceitando tudo como é. O do saber, ao contrário, é baseado em absorver conhecimentos, perguntar, jamais aceitar uma meia explicação. O estudo intensivo está nessa segunda opção. A grande questão dela, é que, durante o pouco tempo que passamos vivos, é impossível absorver conhecimentos o suficiente pra suprir as nossas necessidades, é incabível aprender tudo sobre tudo.
Eu li uma vez, que na vida temos duas caixas, uma na mão esquerda e uma na direita. A da direita é onde guardamos todas as coisas essenciais. Tinha uma explicação bastante lógica para a escolha da mão, mas agora não me recordo qual.
A Caixa da mão esquerda. É onde se guardam os prazeres dispensáveis. Dá vontade de se enclausurar nessa caixa, e passar a vida nos dedilhados de Chopin, no Beethoven. Mas agora chegamos num ponto, onde é impossível fazer essa escolha. Chegamos num ponto onde a curiosidade se tornou a guia, e que não é possível aceitar meias explicações, a caixa da mão esquerda agora é só um privilégio que aproveitamos em raras e notáveis ocasiões.
E é por isso que eu odeio química. Pra falar a verdade, o professor monótono também não ajuda muito.

Um post monumental.

Esse post é um monumento. Você parou para ler ele, na correria do dia a dia. Você tem suas próprias razões imagino. Em respeito ao homenageado, fascínio pelas aves que agora fazem dele seu lar, ou apenas a curiosidade de saber a razão de haver um monumento no meio de um blog.
Ao se inclinar para ver a placa de bronze presa a estrutura, já desgastada pelo tempo e poluição, é possível ler com certa dificuldade as palavras que estão gravadas:

''Em Homenagem ao Colunista Desconhecido das Quartas-feiras. Você, estranho, que passa aqui todo o dia em meio a distração da rotina, que lê com '?'(Os desgastes tornaram a palavra ilegível) religiosa os textos do hipóbole, que ocasionalmente deixa seu comentário construtivo naquele texto que te agrada mais, ou que te irrita ao ponto de ser impossível conter as críticas, que, enfim. Pense nos textos jamais escritos do Colunista Desconhecido das Quartas-feiras.''

Chega de metáforas. Já explicaram isso antes, mas eu acho que é sempre bom dar uma reforçada: As quartas-feiras estão destinadas aos textos que vocês leitores mandam para nós. É claro que podemos ver aqui, nas próximas semanas, textos de amigos próximos que não fazem parte do grupo dos 6 colunistas crassos. Mas, ao meu ver, é bastante interessante receber textos de pessoas aleatórias que lêem o blog por alguma razão que me escapa a lógica. O processo de seleção não é nem um pouco duro, e se seu texto não for selecionado logo de cara, ele poderá aparecer nas semanas seguintes. Para mandar o texto(que por sinal, pode ser qualquer tipo de texto) é só entrar em contato com alguns dos colunistas, os e-mails estão nos perfis. Essa quarta eu mesmo vou por um texto, as razões para isso estão explicadas mais ou menos no post logo abaixo.

Por favor não pixem o monumento, ele já tem fezes de pombo o suficiente.

Apresentação – Parte 3 (Ou egocentrismo é foda)

Só porque todo mundo tá fazendo. Eu só quero ser como os caras legais sabe?

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’’Sois cristão?’’
Na verdade, sim. Mas também sou bravo, forte, filho do Norte. Nordeste pra ser mais exato. Filho de Pseudo-retirantes como diriam alguns. Convenhamos, também não sou muito forte. Mas bastante bravo quando em números. Não Luiza, puro sangue não.

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Os modernistas foram aclamados por escreverem sobre situações cotidianas, da rotina. Para mim isso é docemente conveniente.

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Aposto que você entrou hoje no hipóbole procurando um texto de verdade né?HÁ!

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Peço uma desculpa aos nossos 3 leitores, e aos meus colegas colunistas. O dever acadêmico me impede de aproveitar do tempo ocioso para escrever meu texto de hoje. Prova de Química. Amanhã. Guardem suas tochas e tridentes. Eu peço paciência. Se os planetas conspirarem, e com a ajuda de Cronos, eu ponho algo decente na quarta. Chega de indecência no hipóbole!

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Por sinal o Microsoft Word® não só não reconhece a palavra hipóbole, como sugere uma correção oportuna. Adivinha qual? Hipérbole! Isso é um insulto a nossa iniciativa!

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Terças-feiras no hipóbole agora com mais Kendo! Quer dizer não exatamente essa terça. Mas amanhã eu ponho um texto de verdade, e peço a Luiza ou ao Marco mudarem a data pra hoje. Isso mesmo, malandragem descarada. Lá vem o Vitor, descendo a Ladeira, pandeiro na mão, samba no pé! Protelando o trabalho! Essa malandragem carioca é o que eu vou passar pro meu filho! (Ou não).

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Até amanhã, que por sinal, deveria ser a estréia de nosso colunista convidado da semana, porém não achamos entre as mais de 400 crônicas, contos, dissertações, poemas e apresentações em PowerPoint enviadas para o e-mail do blog, algo que atingisse o nível de qualidade dos textos do hipóbole. Além disso, negar todas as tentativas ajudou a inflar nossos egos, então elas não foram totalmente inúteis! É. Na verdade não recebemos nenhuma sugestão de texto. Droga. Até amanhã.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

As Coisas (in) visíveis

Um dia me disseram que os dias são como as flores. Nascem, tomam o seu rumo e ao fim, morrem. Só não me disseram que coisas eram aquelas que estavam sempre ocultas e que pela sua simplicidade nem todos chegavam a conhecê-las. Pessoas passam dias, meses, anos ou a vida inteira buscando algo que para alguns esteve sempre ali, ou que ao menos não lhes exigiu uma tão longa jornada assim ao encontro delas.
Lembro-me de uma aula de Língua Portuguesa, onde a professora escrevia no quadro o pensamento de um literato (o qual não me recordo mais o nome), que falava das duas caixinhas que recebíamos ao vir ao mundo. Uma vinha para a mão direita e a outra para a mão esquerda.
A da mão direita era a caixa das necessidades, era aquela a que recorreríamos nos momentos “sérios” da vida. Nos problemas seja os de matemática ou os da vida pessoal, era a caixa indispensável à sobrevivência, já que nós, seres humanos, nascíamos destituídos de todo e qualquer conhecimento racional e por fim necessário. Por que a mão direita? Não sei.
A da mão esquerda era a caixa de inutilidades, nela continha todos os sentimentos, todas os anseios, os cheiros de flor e barulho de pássaros e sonatas de Beethoven e os dedilhados de Chopin, o gosto de pé descalço no mato e de manga saboreada no verão. Sim a caixa de inutilidades não era indispensável, como o próprio nome dizia “inutilidades”, para nada servia.
Sabe-se lá...Por que passamos toda a vida sem saber o que é felicidade, ou por que a procuramos como se ela estivesse sempre á frente e nós como atletas tivéssemos que “maratonizar” por toda a mesma. Sabe se lá...Por que os deuses (ou Deus), decidiram confiar a nós duas coisas tão antagônicas e que no fim percebemos que se completam...Dois objetos que na verdade são a própria vida, porém não existem mais as caixas e os conteúdos se confundem .
Não à toa vai dizer Cecília Meireles, que essas coisas (in) visíveis persistem sempre presentes, elas esperam que a achemos, que a contemplemos, mas há os que as vêem, os que tentam vê-las e os que vão passar a vida inteira sem vê-las...Pois é preciso saber vê-las assim.

domingo, 21 de outubro de 2007

Sobre por que os parnasianos “pegavam mais mulher” (sic)


Há quem diga que a poesia é a descoberta das coisas que nunca vimos. Discordo. Ao menos em um caso específico, percebi que é a descoberta de coisas que nem sempre queremos ver. Conto agora a história de como descobri por que, na assim chamada arte da estronda (sic), os parnasianos superavam os modernistas.
Começa a história no dia em que completava seis meses de namoro com Teresa. Foi triste perceber que a rotina havia transformado nossa relação em algo sem graça, repetitivo, mas estava disposto a fazer algo para impedir que isso a levasse a me abandonar. Escreveria um poema em sua homenagem.
O caderno que tantas vezes usei para fazer piadas, criticar o que merece ser criticado ou escrever besteiras quaisquer agora seria rabiscado por um poema que impressionasse Teresa. “A primeira vez que vi Teresa/ Achei que ela tinha pernas estúpidas/ Achei também que a cara parecia uma perna...” Não, um tanto ofensivo e acho que já li isso em algum lugar, pensei. Talvez, “Teresa, você é a coisa mais bonita que eu já vi até hoje na minha vida...” Também não muito original. Tudo a que cheguei foi a conclusão de que escrever um poema não é exatamente simples.
Mudei logo de idéia, e de estratégia. O espírito de malandragem me levou a buscar um livro na estante e utilizar o primeiro poema que visse. Autor: Ferreira Gullar. Ótimo, com um pouco de sorte ela não conhece esse e, mesmo em caso contrário, ficará impressionada com o fato de eu conhece-lo. A euforia foi tanta que nem li aquele texto que viria a se tornar minha perdição; guardei o livro na mochila e fui ao meu encontro.
Quando vi Teresa de novo/ Achei que seus olhos pareciam eram muito mais velhos que o resto do corpo/ Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do [corpo nascesse. Não liguei para esse pensamento aleatório que passou pela minha cabeça; tinha uma missão, afinal. Ao saber que tinha preparado aquele recital, Teresa ficou encantada. Comecei, então:
“turvo turvo/ a turva/ mão do sopro/ contra o muro/ escuro/ menos menos/ menos que escuro/ menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo/ escuro/ mais que escuro:/ claro/ como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma/ e tudo/ (ou quase)/ um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas...”
Até esse momento, tudo ia bem. Talvez porque gostasse talvez porque não entendesse, minha garota manteve um sorriso artificial (daqueles de que não está entendendo nada) até esse trecho. Sorriso esse que se desfaria com os versos seguinte.
“azul/ era o gato/ azul/ era o galo/ azul/ o cavalo/ azul/ teu cu/ tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras)/ como uma entrada para...”
O choro da jovem denunciava que algo estava errado... Teria eu errado na leitura de algum trecho? Quando perguntei o porquê daquela situação, ouvi uma voz arrastada dizer que, dentre todos os poemas de Gullar, dentre todos os poemas da língua portuguesa que poderia escolher, o poema sujo era o menos indicado. Nunca mais vi Teresa. Os céus se misturaram com a Terra/ E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.Assim perdi minha primeira namorada, mas aprendi uma boa lição. Na vez seguinte que sai com uma garota, recitei um poema do Bilac mesmo, pra não ter problema. E foi assim que cheguei à conclusão com que iniciei meu texto: sem dúvida alguma os parnasianos, como dizem por aí, “pegavam mais mulher” que os modernistas.

Respostas ao operário que lê

A Bertold Brecht

Eu sei quem construiu Tebas, a Muralha da China e os arcos de Roma.
Eu sei sobre a campanha da Gália, a conquista das Índias e a Invencível Armada.
Guardo comigo muito mais páginas, muito mais décadas.
Sou mais eficiente...
E assim tomei teu emprego.

Não sabes quem são os que fizeram história e não estão na História?
Como tens tempo de sobra,
Proponho-te nova pergunta.
E aqueles que não estão na História
Mas não tiveram em vida chance de fazer história?

Os que, como tu,
Não têm pedras para carregar,
Muralhas por construir.
O desemprego é problema de hoje?
O desemprego é problema só teu?
O desemprego não tem solução?

Tantas perguntas,
Uma resposta
00111111

Uma semana que passa...

*Nessa seção pretendo expor semanalmente pensamentos aleatórios que tenham passado pela minha cabeça e mereçam (ou não) destaque.
_Resolvi voltar a cultivar a barba. Sigo, assim, aquela idéia que já expus a alguns de vocês e que agora torno pública. Reconheço que a barba não faz o filósofo. No entanto, também é verdade que o filósofo não faz a barba.
_“Comedor de hot dog mais rápido do mundo vira heróis nos EUA. Joey Chestnust ficou famoso por ter vencido uma competição de como cachorros quentes.” Fonte:G1_ Citando Bertold Brecht, triste do país que precisa de heróis devoradores de fast-food.
_Uma equipe de pesquisadores desocupados da revista Placar descobriu que os jogadores mais caros da última janela de transferências custaram mais caro que seu peso em ouro. Outra equipe, essa de alquimistas, iniciou suas pesquisas para a transformação de ouro em jogador de futebol.
_Proponho ao Ibope, presidido por Carlos Augusto Montenegro, que faça uma pesquisa de opinião para saber de o Botafogo realmente precisa dele._Até domingo que vem, boa sorte para quem for fazer a prova da PUC.

sábado, 20 de outubro de 2007

Feliz Aniversário!

Amanha o hipóbole faz uma semana de vida.

Vale a pena: exposição Luz da Galáxia comemorativa dos 30 anos da saga Star Wars.Organizada pelo Conselho Jedi do Rio de Janeiro, que completa 10 anos.
Onde: Forte de Copacabana

Morte Silenciosa

Morte silenciosa


O Sol iluminando florestas sem fim
Criando um espectro esverdeado
Levado a todos os lugares pelo vento
(Sereno e constante)
Toda a natureza em harmonia
Sorrisos espontâneos e pensamentos alegres

e dentro de cada um de nós,
a vontade de acreditar que isso é possível
Mas não é...
Tentando entender o motivo dessa autodestruição
Acena cambaleante, com pretensão de naturalidade,
Uma humanidade de dentes podres, decrépita
Lutando pra continuar fingindo
Que ainda há tempo...que tudo vai mudar
Mas não vai...
Todos mantendo uma imagem de felicidade absurda
Sabendo(ou ignorando) que enquanto comem um “shitake”
Famílias inteiras comem lixo, fazem sopas de papelão
Parecendo-lhes natural que haja esse brutal abismo
A perda total da dignidade humana
Filmes sensacionalistas fazendo a população acreditar
Que os truculentos que executam sumariamente são heróis
Burocratas assassinando esperanças de quem não tem nada mais
Artistas alienados semeando alienação e comodismo
A uma juventude que não sabe aonde quer chegar
Não há mais ideal, só interesse

Ontem me disseram que “amanha você ainda vai sonhar”
Hoje é o amanha,
E os sonhos morreram
Se esvaeceram, mudos e aprisionados
Como um soluço contido
Por uma civilização que se julga dona da verdade

Lucas O. Mourão

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Apresentação – Parte 2

Como o Marco já disse, eu sou "a pessoa das quintas-feiras", inaugarando minha participação com o texto abaixo. Mas antes que você possa lê-lo, o Hipóbole traz algumas novidades e é meu dever anunciá-las:
Primeiro, gostaríamos de apresentar os novos colunistas do Hipóbole, que serão, a princípio, os colunistas semanais: Ingrid Torres, Vitor Okendo, Luísa Tolhuizen e Lucas Mourão.
Todos postarão na próxima semana, então não me estenderei muito para não estragar a surpresa.
Entretanto, se você for uma pessoa atenta, notará que há apenas 6 colunistas para 7 dias na semana. E não, não pretendemos chamar mais ninguém para textos semanais. Então, faremos um convite aos nossos... 3 leitores para escreverem textos para o blog. O melhor será postado na quarta-feira de cada semana.

Antes de ler meu texto, por favor, tenha em mente que é tudo uma brincadeira. Eu não sou uma pessoa para ser levada muito a sério. Boa leitura!

Libertinajens, verbos intransitivos e outras coisas modernas (demais para mim)

Não se iluda! Esse texto não fala sobre semanas no ano de 22 ou porquinhos-da-índia como primeira namorada – salvo casos extremos. Ele tem mais a ver com o número 37, Maria Quitéria e minha descoberta, em plena adolescência, da minha própria caretice.
Mas Taine me obriga a, antes de entrar na parte que interessa – leia-se orjias – fazer o reconhecimento do nosso cenário: Maria Quitéria, pós Visconde de Pirajá. O quarteirão do bar propriamente dito é um conflito ideológico constante, quase uma guerra fria permanente. Mas ninguém realmente se importa com isso (de fato, nem eu): as pessoas simplesmente escolhem seu favorito e tomam seus chopps, ignorando o comportamento alheio – exatamente como deveria ser.
Caminhando a favor do vento, sem lenço sem documento, atravessa-se a Vieira Souto e chega-se no quiosque, habitat natural dos sujeitos dessa crônica: um lugar simplório, com cadeiras de plástico vermelhas que ninguém realmente usa e cerveja Itaipava. Nada mais a declarar.

“João amava Teresa, que amava Raimundo... “. Mal sabia Drummond como seu poema estava equivocado. Proponho duas versões alternativas:
João amava Teresa, Maria, Lili...
João amava.
E olha aí! Esbarramos em outro Andrade – o Mário (alguém quer fazer uma piada aqui?).
Mas o nativo emporiano é assim, livre, ou melhor, libertino. Para não perder o caráter de estudo, fui procurar no Houaiss a definição formal dessa autodenominação do emporiano. Não me surpreendi com o resultado:
li.ber.ti.no (adj.) 1. aquele que leva a vida dissoluta, que se entrega imoderadamente aos prazeres do sexo.
Diante disso, nem me dei o trabalho de olhar outras definições.

Com o superego diluído em etanol, a visão turva e a sexalegria atinge o pico. As restrições foram pro buraco. O byronismo predomina – sem a parte do suicídio, é claro. O mundo gira e as pessoas vão rodando. E a noite é uma criança...

Quer um exemplo pratico e denotativo? Imagine-se afim de uma menina. Não há nenhuma necessidade de ser amigo do rei para conquistá-la, mas não espere exclusividade. Aliás, esqueça monogamia. E definição de sexualidade. Libertino que se preza é puro-sangue*, bravo, forte e filho da Morte. Se os problemas de combinatória fossem no Empório, além de ficarem mais “irados”, dariam números bem maiores.

O relógio devasso já não serve mais: os ponteiros multiplicaram-se numa alucinação cambaleante. As memórias vêm à tona como monstros e o senso de realidade bate: “mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução”. Mas a vida continua, aos trancos, barrancos e noitadas: felizmente existe o álcool.
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*puro-sangue: completamente livre de rótulos sexuais

Genial! Ou não...

Bom, esse será um apêndice permamente dos meus textos, onde colocarei a frase (ou diálogo) mais brilhante da semana. Créditos para a Luísa pelo título.

Aula de Geografia sobre a reforma Rio Cidade na década de 90:
Professor: "Uma das medidas tomadas foi o alargamento da R. São Clemente"
Aluno: "Mas pra quê?"

Obviamente, não irei identificar a pessoa que falou a pérola, então não se sintam envergonhados por falar burradas na minha frente.

domingo, 14 de outubro de 2007

Apresentação

Está lançado o hipóbole conjugada!
Tudo bem, se você está aqui, isso não é exatamente uma novidade, certo? Mas, agora, cabe a mim explicar o que é e por que é esse blog. A Luiza criou, eu explico. Bastante justo...
Fruto de uma conversa dominical como qualquer outra, criada com um ímpeto ímpar, essa página funcionará como meio para seus colaboradores publicarem o que já escrevem, mas não têm onde colocar. Para mim, servirá como substituto da revista em que escrevia, mas que acabou devido à proximidade do fim do ano. Pretendo uma vez por semana apresentar idéias sobre os fatos recentes, criticar quem merecer e divulgar qualquer tipo de material literário que eu tenha produzido, além, é claro, de fazer algumas observações inúteis e comentários babacas.
A equipe do Hipóbole Conjugada por enquanto sou eu e a Luiza, que deverá fazer sua apresentação quinta-feira, podendo ser ampliada logo. Cada um de nós tentará publicar com certa periodicidade, domingos para mim, quintas-feiras para ela.
Como a idéia surgiu hoje, não tinha quase nenhum material pronto. No próximo domingo começo a fazer a minha parte do blog.
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Por hoje deixo apenas o conto que participa do concurso literário para a edição de novembro da revista Piauí, cuja proposta é a produção de um texto com a frase "Os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio”. Uma proposta absurda? Talvez, mas aqui está o resultado...
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Jovem promessa
No meio artístico, Carlos já era famoso desde o período embrionário. Fruto de um descuido da maior violinista brasileira durante a passagem de um celebrado romancista russo pelo país, havia sido abençoado pelos deuses da genética. Essa dádiva, no entanto, trazia uma grande responsabilidade. O som que vinha sem pausa da sala onde a mãe ensaiava era como uma mensagem a lembrá-lo das expectativas que o rondavam. Deveria deixar ao menos uma obra, em qualquer das sete artes, para a eternidade.
Mal aprendera a falar, já tomava aulas de piano com professor particular. Como conhecia o meio, a mãe pôde escolher o melhor para lecionar música a seu filho, mesmo que isso tenha custado à jovem promessa um irmãozinho. A precocidade deu resultados. Sua reprodução de clássicos eruditos não agradava aos colegas, mas impressionava as professoras, o que lhe rendeu o prêmio no concurso de talentos durante todo o ensino fundamental.
Na adolescência tomou gosto pela literatura. Sua habilidade na arte de escrever provocou no jovem uma dicotomia. Era sempre elogiado pelos docentes por vencer concursos literários em nome do colégio enquanto seu alter-ego, diretor da revista de oposição à coordenação, era admirado pelos discentes.
Carlos também era exímio pintor, mas utilizava-se do dom para, aliando-o à criatividade, desenhar charges e tirinhas bem humoradas. Sua mãe, sempre ausente por causa dos intermináveis ensaios, demorou a perceber os rumos que tomava o rapaz. Defensora do principio da arte pela arte, deixou clara a reprovação à arte crítica daquele que, dizia, envergonhava a tradição artística da família.
Esse golpe foi duro para Carlos, já inscrito a essa altura para a faculdade de cinema. Não teve a oportunidade de aventurar-se nas quatro artes que ainda pretendia experimentar. Acabou assim a carreira da maior promessa artística da atual geração. Sua única obra que ficou famosa foi um bilhete de oito palavras: “Os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio”.