domingo, 24 de fevereiro de 2008

Fidel, al- Gaddafi e o número nove

O principal tópico discutido pelas páginas destinadas em revistas e jornais a política internacional essa semana, seguido pelo processo de independência kosovar, foi a renúncia de Fidel Castro dos postos de presidente e comandante-em-chefe das Forças Armadas de Cuba, postos que poderiam ser resumidos com o termo ditador. Mais impressionante que a saída do comandante, algo previsto e gradual desde o desenvolvimento de sua doença, é a forma como o assunto foi coberto por nossa mídia, orgulhosa de sua imparcialidade.

Quem for essa semana a qualquer banca de jornal poderá comparar as dissonantes matérias de duas das principais revistas semanais brasileiras. Enquanto uma publica “Já vai tarde” (“O fim melancólico do ditador que isolou Cuba e hipnotizou a esquerda durante 50 anos”; “Um pais de muito passado agora tem algum futuro”), a outra responde com “Cuba sem Fidel” (“O socialismo vai resistir”; “O legado, o futuro e o significado de Fidel Castro e da revolução”). As duas, vale lembrar, utilizam a mesma foto na capa. A renúncia e o processo que ocorrer a partir dela, independente de qual for, fomentam o debate sobre a ditadura e o culto à personalidade no século XXI.

Em todos meios de comunicação lembrou-se que Fidel era o ditador há mais tempo no poder (49 anos). Era. A primeira pergunta que me veio à cabeça foi qual déspota teria tomado tal título. Uma rápida pesquisa me levou ao nome do líbio al-Gaddafi, que detém o poder desde 1969 no país da bandeira de uma única cor. Uma outra inferência inútil a que a pesquisa me levou, essa ainda mais improfícua, é a propriedade cabalística do números terminados em 9 na história dos ditadores.

Uma rápida lista com os principais ditadores que tomaram o poder em anos com essa característica, considerando apenas o século passado, além de Fidel e Gaddafi inclui  o ucraniano Petliura (1919); Franco e o esloveno Josef Tizo (1939); Mao Tse Tung e Sukarno (1949); e Saddam Hussein (1979). Entre os depostos encontramos, além de diversos nomes desconhecidos, o vietnamita Ho Chi Minh (1969) e os africanos Idi Amin e Bokasa (1979). Também em anos terminados em 9 houve duas transições entre ditadores, a cubana de 1959 e a de Guiné, em 1979. Um personagem que merece destaque é o famoso Aiatolá Khomeini, que se manteve por dez anos no poder, entre 1979 e 1989. Ointenta e nove, por sinal, foi o ano com mais ditadores depostos num grupo que inclui não só o romeno, o polonês, o búlgaro e o da Alemanha Oriental, todos ligados ao Kremlin, mas também os latinos Manuel Noriega no Panamá e Alfredo Stroessner no Paraguai.

As ditaduras indubitavelmente marcaram a história do século XX, resistindo ainda em nosso século. Resta saber se permanecerá existindo em número considerável, como desejaria Kim Il-Sung, detentor do título de Presidente Eterno da República Democrática Popular da Coréia e morto em 1994, ou se a tendência é continuar diminuindo em quantidade. O ano chave para isso, dizem os numerólogos, é o próximo, 2009.