domingo, 4 de novembro de 2007

Telos

No princípio dos tempos, o mundo era claro e vivo. O mar, as flores, o sol, tudo no mundo o coloria alegremente. O dia e a noite revezavam-se assistindo as mais diversas espécies que viviam em harmonia. O alimento e a água existente saciavam a todos; nada atrapalhava os ciclos da natureza.
No primeiro dia, uma espécie se espalhou pela terra. O Homem se multiplicava e, por algum tempo, manteve-se respeitando os outros seres. O Homem era feliz de maneira inofensiva à terra.
Então, no segundo dia, um humano ofendeu outro. E a família do segundo se sentiu desonrada. E a família do primeiro o defendeu. A tribo se dividiu em duas, tendo início a primeira guerra. Os vencedores se sentiram superiores, e fez-se a escravidão. Os líderes da tribo gostaram da experiência e resolveram ofender outra tribo. O Homem passou a lutar por sua terra, e por sua mulher, e por sua honra, e por tudo aquilo pelo que, segundo ele, valia a pena morrer, mas principalmente matar. E até por deus, que teria criado tudo, o Homem lutou.
No terceiro dia, conforme desenvolvia seus métodos de produção, o Homem desejava novos, cada vez mais eficientes. E o Homem criou a máquina. E o Homem disse: haja o Progresso. E as máquinas trouxeram o Progresso. E o homem regozijou-se pelo que havia feito.
O Homem viu que o Progresso era bom e, no quarto dia, continuou sua busca pelo Progresso. E o homem disse: que se faça as trevas. Com as cinzas do carvão e com a fumaça das fábricas fez-se as trevas. E o Homem orgulhou-se por ser o mais inteligente ser sobre a face da terra.
No quinto dia, o Homem pensou: não é bom que o Progresso esteja só. E começou a explorar o petróleo. E o petróleo ajudou o Homem na busca pelo Progresso. E as plataformas espalharam-se. O petróleo estava agora, em todos os cantos da terra, junto ao Progresso.
Vendo o quanto era superior, no sexto dia o Homem resolveu aproveitar-se cada vez mais do que lhe fora dado. E os céus e os mares foram poluídos. E tudo começou a extinguir-se. Conforme avançava o Progresso, a terra ficava mais feia, e vazia, e cinza.No último dia, a obra do Homem estava pronta.
E o Homem descansou sob a terra orgulhoso de tê-la modificado, eternamente.

Rua Dom Gerardo, 68

Ao subir uma última vez os degraus de meu Ateneu
[reflito:
Como percorro em poucos minutos
Os dezesseis lances de escada
A que devotei onze anos?

-Vão-se as horas de espera
Na fila do primeiro andar.
E os empalhados do segundo,
Os preços a que me acostumei,
As aulas de flauta... TA-Á.
-Vão-se aqueles almoços
Realizados em horário notório
No bandejão que virou couve-flor
(Enjoei-me de tanto feijão)
As horas no refeitório...
-Vão-se o rala-coco e o campão
Todas aquelas partidas
Jogadas desde que chegamos
Ao pátio do quinto andar.
Os anos de ginásio, de calças cumpridas.
-Vão-se as aulas que matávamos
No sexto andar, na enfermaria
E a oitava série negra
Que vivi no sétimo andar
(Preto, guitarra, anarquia).
-E agora o oitavo andar
De onde eu vejo a Baía.
Findo o ensino médio,
Vou-me eu embora
Na esperança de voltar algum dia.

Vão-se as imagens, os prazeres,
Vai-se cada peculiaridade

Ficam os Valores aprendidos
Ficam as Amizades
Fica a Saudade Hipócrita.

Três semanas que passam

_Políticos são todos iguais?
Para algumas pessoas, as eleições são um momento de mudança, de esperança, de separar aquilo que é bom do que é podre na política. Se você é uma dessas pessoas, ainda bem que você não mora na Polônia (a menos que você more na Polônia, saiba ler português e freqüente esse blog, o que é pouco provável).
Duas semanas atrás, no dia 21 de outubro, os poloneses escolheram seus representantes para o legislativo. O antigo primeiro-ministro, Jaroslaw Kaczynski, do partido de direita PiS, viu sua legenda ser derrotada pela Plataforma Cívica, do político de centro-direita Donald Tusk, apoiada pelo ex-líder do Movimento Solidariedade, Lech Walesa.
Até aí tudo bem, as mudanças parecem ter ocorrido e tudo mais. No entanto, dizem que um registro fotográfico vale mais que os escritos e o processo eleitoral foi marcado pela seguinte foto, em que o ex-primeiro ministro cumprimenta o atual presidente, seu irmão gêmeo. Tirem suas próprias conclusões.
_Em resposta ao trecho que me toca (metaforicamente) no texto do Kendo da última terça-feira, gostaria de completá-lo com uma passagem relativa a nossa vida na oitava-série. Ocorreu no dia 10 de Novembro de 2004, seu aniversário; Seu pai nos levaria para o Hot Zone. Mas, pensei, o Vitor não disse diversas vezes que seu pai não era outro senão o próprio diabo? Qual não foi minha surpresa ao descobrir que o motorista do carro não era o capeta, o tinhoso, o das sete peles, ou outra nomenclatura que ele tenha usado, mas um senhor com uma profissão honesta, a da urologia...
_Àqueles que estão sem fazer nada na internet esse domingo, sugiro o curta O Paradoxo da Espera do Ônibus, um dos melhores da última Maratona Odeon. Um texto que também recomendo é a crônica Ter ou não ter namorada, de Artur da Távola, que pode ser encontrado em qualquer blog (que dirá que é de Carlos Drummond) se você procurar no google.
_Até semana que vem, boa sorte aos que farão prova da UFRJ no domingo.