domingo, 30 de dezembro de 2007

Mais um ano que passa

Olha eu aqui de novo, duas semanas seguidas.
É possível que você esteja pensando "Lá vem ele de novo com uma desculpa pronta para não ter escrito nada, deixando o blogue de lado mais uma semana". Mas acredite, não há vestibular como desculpa e não conheço outro sociólogo que possa usar como justificativa.
Foi por isso que ontem comecei a escrever uma crônica. Poderia tê-la terminado, mas acho que ficaria ruim. Ainda assim precisava postar alguma coisa, pois minha ausência em sequência já estava ficando chata.
Então resolvi fazer o seguinte, mesmo que seja precipitado.
Postei abaixo o que espero que venha a ser o primeiro capítulo, ou talvez o prólogo, do romance que citei semana passada. Não sei se será possível completá-lo, verei conforme a história avança, mas de qualquer forma resolvi que poderia fazer algo relativamente novo...
Conforme escrevo, postarei aqui e peço que, caso haja alguma sugestão/crítica/qualquer outra coisa, vocês a façam pelos comentários, mesmo que seja algo ruim ou correção gramatical.

Postei essa semana, mas tenho já a desculpa pronta para as próximas. Viajarei em janeiro e não sei se será possível postar um texto por semana. Vou tentar deixar algo pronto para os outros postarem, mas não sei ainda se será possível.

Enfim, feliz 2008, para mim e para vocês.
E, por que não, que o Hipóbole continue assim, não no ritmo de dezembro, mas no de outubro/novembro.

Prólogo

“Mas como foi a sessão de fotos? Você ficou nervosa?”

“Claro... Foi o meu primeiro ensaio, então o nervosismo era natural, sabe, com tantas pessoas me olhando. Mas correu tudo bem; a equipe era ótima e o fotógrafo extremamente profissional...”

Ainda que inédita, a matéria soava repetitiva para o repórter. Já havia, em diversas oportunidades, entrevistado ex-participantes do Big Brother que estampavam capas de revistas masculinas. Mas não é nisso em que consiste sua profissão? Basicamente, vasculhar o mundo das celebridades televisas atrás de notícias bombásticas e, não as conseguindo, extrair algumas palavras de quem não tem nada a dizer. Não se orgulhava do emprego, mas era isso que lhe dava dinheiro, bastante por sinal, e garantia sua fama.

Para que os quatro anos estudando jornalismo se não sentia prazer ao escrever, e menos ainda ao ler sua revista? De que lhe valia a erudição acumulada se grande parte dos leitores e dos personagens de suas matérias não sabiam o significado da palavra? Só o que sabia é que, caso morresse naquele momento, não teria morrido feliz.

De qualquer forma, seria injusto dizer que não era bom no que fazia. Toda semana publicava matérias que provocavam exclamações de surpresa nas donas de casa que, ao irem comprar pão, paravam diante das revistas expostas na banca de jornais. Até mesmo aquela entrevista, sem conteúdo algum e por ele desprezada, conseguiria a capa caso ninguém famoso se casasse ou se separasse naquela semana. Por mais que a razão lhe fosse oculta, a maioria da população interessava-se por aquelas banalidades da mídia, desde que tivessem sido escritas ou comentadas por ele, o mais temido e respeitado repórter de fofocas, o herói dos paparazzi, o guru das domésticas.

E pensar que, quando jovem, interessava-se por Política e História... O que queria era estar numa Universidade discutindo filosofia, e não na sala de estar de alguém que devia sua fama a um reality show. Sonhava em publicar ensaios sobre a situação do país ou, por que não, sobre o ateísmo que defendia até mesmo de forma irracional antes de vender-se àquela revista de fofocas. Mas quem os leria? A parcela da população que lê seu trabalho não se interessa por tais assuntos e a parcela que se interessa nunca leria algo seu, senão na sala de espera do dentista.

Enfim, não dispunha de tempo para questionar-se sobre algo tão fútil quanto os rumos que sua vida havia tomado. Tinha uma entrevista por fazer e aprendera, após anos em sua profissão, que pensar não era algo produtivo.

“E os projetos de trabalho agora que saiu da casa mais famosa do país... Como estão?”

Algumas vezes se indagava o porquê de perguntas tão idiotas. Não era preciso ter toda sua experiência para saber a resposta daquela. Meia dúzia de campanhas publicitárias e, talvez, uma oportunidade de emprego na próxima novela das seis, algo de que seus contratantes logo se arrependeriam. Depois disso, o ostracismo.

Dessa vez, no entanto, não ouviria o que aquele ela julgava ter a dizer... Sentiu uma dor lacinante no coração e viu o ambiente ao seu redor escurecer.