sábado, 15 de dezembro de 2007

Zahr-parte 1

Zahr:


Introdução:

Olhava a pilha de formulário a serem preenchidos.De todos os lados, sons típicos de um escritório: telefones tocando, secretárias passando, o burburinho dos colegas que discutiam os planos para a noite, tomando café.Tudo tão tedioso.Será que só ele se sentia sufocado pelo cotidiano?Se levantou, foi até a janela.A visão de um mar cinzento à sua frente.Não pensava em nada, afinal não havia nada, ou melhor, tudo era inerte.Mesmo as coisas que se movimentavam eram tediosamente previsíveis.Ele, só mais uma criatura patética, em busca de alguma forma de reconhecimento.Nada mudaria.Queria ser aquela gaivota que voava à sua frente, sempre explorando novos territórios. “Cansado do trabalho?” Era a voz do chefe, vindo de trás: “Vamos fazer o seguinte, já são quase sete, pode ir pra casa, você já fez um bom progresso essa semana! Hahaha...” Sabia que era tudo mentira, papo furado, parte da política da empresa: dar impressão de bem estar, fortalecer a vaidade dos funcionários em nome da companhia...Não importava, queria sair dali o mais rápido possível.
Na volta, passou por um sebo, procurando algum vinil, ou livro de ficção.Já que a vida é tediosa, fantasiemos outras realidades, pensou.Adorava aquele lugar,não tinha aquele ar pretensioso das livrarias “multinacionais”, quase todos os livros eram de segunda mão, tinham história.Isso o fascinava!.As pessoas daquele meio pareciam admirar verdadeiramente os artigos.Estava farto daqueles pseudo-intelectuais, até mesmo dos intelectuais das “multinacionais”.Estava farto de qualquer esforço em nome de uma aparência, e aquele lugar era o mais verdadeiro possível.Terminou comprando o último livro do Sandman, O Fim dos Mundos.Deve ser interessante, pensou, ainda mais com uma apresentação escrita pelo Stephen King!Quem será o maluco que se desfez de uma obra dessas...
Em casa, nem chegou a jantar.Sentou-se na poltrona que fora de seu pai, pegou o livro, começou a ler.Em quatro horas havia lido tudo, e pensava que aqueles tinham sido os centavos mais bem gastos em muito tempo.Exausto, acabou dormindo.
O azul se fundia com o roxo, em nuvens de fumaça cor violeta.De todos os lados vinham luzes brancas, que oscilavam como uma lâmpada com mau contado.Havia uma sensação de velocidade indescritível, e a cada instante surgiam novas nuvens, de diversas cores, se revezando incessantemente .Não havia cheiro, mas ainda assim era a sensação mais intensa possível, para um ser humano. Inclinou a cabeça tentando olhar para baixo, foi só então que percebeu que não havia “baixo” nem “cima”, e que estava descalço.Que sonho mais bizarro, afinal por que nunca uso sapatos nos meus sonhos?...Freud deve explicar isso, pensou em tom sarcástico.
Acordou.Até que enfim, tava cansado daquela loucura...Os olhos,abriu-os lentamente, pois a luz os machucava.O solo era árido...Não estava em seu apartamento, mas sim em um local ermo, totalmente deserto.A paisagem era arenosa e havia tufos de capim esparsos, entre pequenas poças rasas.O Céu era de um tom vivo de azul, e ao longe montanhas e colinas, com neve nos cumes, o circundavam.Levantou-se, estava mais pesado que o normal, sentia dificuldade em se equilibrar.Ao longe surgia a silhueta de uma mulher envolta em um manto de pele de urso.Caminhava em sua direção serenamente, com o olhar fixo nele, portando um peixe- preso por uma rede, na mão esquerda.Também estava descalça, reparou.
-Quem é você?
-Descanse viajante, poupe esforços.Estávamos ansiosos por sua vinda.Mas tudo deve ser realizado a seu tempo, não é mesmo? Amanhã sua mente estará mais clara...
(continua)
Lucas O. Mourão