segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Da Solidão

“Em qualquer caso, a vida não é senão uma procissão de sombras, e sabe Deus por que as abraçamos tão avidamente e as vemos partir com tal angústia, já que não passam de sombras”.(Virgínia Woolf)

Os pensamentos às vezes destroem a gente, ainda mais naqueles dias em que tudo parece tão difícil, até mesmo responder a uma simples pergunta de um amigo seu como: “Você está bem?”. Mesmo que o olhar dele seja um olhar terno e preocupado. Nesses dias nem a mais linda criança tiraria de você um sorriso e o “por quê?” Nem mesmo você sabe, mas tem um pequeno palpite: solidão.
Está deitado na cama e olha para o teto, para os lados e sente o silêncio. Momentos em que nos afastamos (se possível), para que se ocorrer uma explosão de choro, você fique só. Ali no seu cantinho, sem que ninguém note que você está um lixo por dentro e que se batesse alguma brisinha, você cairia ao certo. De fato que ninguém resolveria o teu problema...Não...Mas talvez alguma conversa ajudasse...Porém a solidão fala mais alto.
O medo nos põe a milhas de distância de pessoas queridas e que deveriam estar perto e talvez elas estejam, mas nós não. Preferimos continuar com a angústia e sós. Encapsulamo-nos em nossa própria cabeça e aí está criada a máquina ambulante. Com sentimentos reprimidos e abafados, sem saber o que significa um abraço ou um beijo. Fechados e frios.
Seres dependentes, mas que não admitem. Seres orgulhosos, de narizes empinados e destruídos por dentro. Adeptos do “meu celular, meu computador, minha revista, meu livro, minha bolsa, minha caneta...” meu isso, meu aquilo. No ônibus a única coisa possível ao lado de tanta gente “estranha” é por o meu “egoísta” no ouvido. Vai-se o caminho todo esperando que o destino chegue, para que a separação “daquelas” pessoas seja certa.
E às vezes a vida dá uma segunda chance de sabermos o que é um amigo, e do que são feitas as pessoas e suas trajetórias...Às vezes não.
E se essas sombras são apenas coisas que passam, meio nebulosas, esfumaçadas, sem importância, será por que nós nunca as deixamos passar sem olhar para elas e sentir uma tristeza profunda, mesmo que em algumas vezes nunca as tenhamos experimentado?

4 comentários:

Anônimo disse...

Mark Twain disse que vida não consiste, majoritariamente, de fatos e acontecimentos. Consiste apenas da tempestade de pensamentos que para sempre flutuam na cabeça de alguém. E, levando em conta que Nietzsche disse que os pensamentos são as sombras de nossos sentimentos - sempre mais sombrios, vazios e simples -, podemos chegar a conclusão de que a vida, talvez, seja realmente o que fazemos dela. E, ultimamente, isso não passa de um aglomerado de 'eu's e seus universos particulares.

Excelente observação, Ingrid. Gostei muito do seu texto.

Me chamo Sapo (Lucas Mourão), disse...

Acho que um dos males do nosso tempo é a "solidão coletiva":as pessoas são na sua essência egoístas,mas mesmo assim procuram ficar no meio de outras, mesmo que não gostem delas...

Me chamo Sapo (Lucas Mourão), disse...

Escrito com maestria e originalidade de quem busca compreender os sentimentos,Ingrid!

Luiza N. Silva (Quinta) disse...

Ah, droga! Brilhante, brilhante! Bravíssimo, minha querida! Lindamente redigido e de uma profundidade impressionante. É o tipo daquele texto que te faz pensar "caramba, eu faço exatamente isso".
Estás mais do que certa no teu ponto, as pessoas estão tendendo a se ilhar. E tem pessoas, aproveitando o comentário do Lucas, que fazem pior, se isolam circundadas de gente, o que me faz pensar o quão dormente é essa pessoa por dentro. Que se prende nos prazeres imediatistas e no fundo, não há nada...
Lindo, lindo, moça!