domingo, 4 de novembro de 2007

Rua Dom Gerardo, 68

Ao subir uma última vez os degraus de meu Ateneu
[reflito:
Como percorro em poucos minutos
Os dezesseis lances de escada
A que devotei onze anos?

-Vão-se as horas de espera
Na fila do primeiro andar.
E os empalhados do segundo,
Os preços a que me acostumei,
As aulas de flauta... TA-Á.
-Vão-se aqueles almoços
Realizados em horário notório
No bandejão que virou couve-flor
(Enjoei-me de tanto feijão)
As horas no refeitório...
-Vão-se o rala-coco e o campão
Todas aquelas partidas
Jogadas desde que chegamos
Ao pátio do quinto andar.
Os anos de ginásio, de calças cumpridas.
-Vão-se as aulas que matávamos
No sexto andar, na enfermaria
E a oitava série negra
Que vivi no sétimo andar
(Preto, guitarra, anarquia).
-E agora o oitavo andar
De onde eu vejo a Baía.
Findo o ensino médio,
Vou-me eu embora
Na esperança de voltar algum dia.

Vão-se as imagens, os prazeres,
Vai-se cada peculiaridade

Ficam os Valores aprendidos
Ficam as Amizades
Fica a Saudade Hipócrita.

2 comentários:

Vitor Okendo (Terça) disse...

Simplesmente foda.
O que fica é a saudade hipócrita mesmo.
Nem sei mais o que dizer, deve ser o texto seu que eu mais gostei.

Anônimo disse...

'Ficam os Valores aprendidos
Ficam as Amizades
Fica a Saudade Hipócrita.'

Acho que fala por vários em N lugares diferentes ao dizer isso!
Perfeito!