segunda-feira, 22 de outubro de 2007

As Coisas (in) visíveis

Um dia me disseram que os dias são como as flores. Nascem, tomam o seu rumo e ao fim, morrem. Só não me disseram que coisas eram aquelas que estavam sempre ocultas e que pela sua simplicidade nem todos chegavam a conhecê-las. Pessoas passam dias, meses, anos ou a vida inteira buscando algo que para alguns esteve sempre ali, ou que ao menos não lhes exigiu uma tão longa jornada assim ao encontro delas.
Lembro-me de uma aula de Língua Portuguesa, onde a professora escrevia no quadro o pensamento de um literato (o qual não me recordo mais o nome), que falava das duas caixinhas que recebíamos ao vir ao mundo. Uma vinha para a mão direita e a outra para a mão esquerda.
A da mão direita era a caixa das necessidades, era aquela a que recorreríamos nos momentos “sérios” da vida. Nos problemas seja os de matemática ou os da vida pessoal, era a caixa indispensável à sobrevivência, já que nós, seres humanos, nascíamos destituídos de todo e qualquer conhecimento racional e por fim necessário. Por que a mão direita? Não sei.
A da mão esquerda era a caixa de inutilidades, nela continha todos os sentimentos, todas os anseios, os cheiros de flor e barulho de pássaros e sonatas de Beethoven e os dedilhados de Chopin, o gosto de pé descalço no mato e de manga saboreada no verão. Sim a caixa de inutilidades não era indispensável, como o próprio nome dizia “inutilidades”, para nada servia.
Sabe-se lá...Por que passamos toda a vida sem saber o que é felicidade, ou por que a procuramos como se ela estivesse sempre á frente e nós como atletas tivéssemos que “maratonizar” por toda a mesma. Sabe se lá...Por que os deuses (ou Deus), decidiram confiar a nós duas coisas tão antagônicas e que no fim percebemos que se completam...Dois objetos que na verdade são a própria vida, porém não existem mais as caixas e os conteúdos se confundem .
Não à toa vai dizer Cecília Meireles, que essas coisas (in) visíveis persistem sempre presentes, elas esperam que a achemos, que a contemplemos, mas há os que as vêem, os que tentam vê-las e os que vão passar a vida inteira sem vê-las...Pois é preciso saber vê-las assim.

8 comentários:

Luiza N. Silva (Quinta) disse...

Ingrid, divino ^^
É maravilhoso ter uma colunista como você no nosso humilde blog. Parabéns =D, ficou foda.
Agora, nem adianta esconder o dom pra literatura! Ha, pegamos você!

José disse...

Divino

Vitor Okendo (Terça) disse...

Nossa...
Muito bom mesmo, incrível!
Já tenho algo a mais para esperar nas penosas segundas, yeah!

Marco Sá disse...

Nossa, nossa...
Muito legal mesmo!
Parabéns.
Nunca tinha lido nada seu, Ingrid, mas agora sei como você escreve.
Alguém tem que escrever sério, afinal. ^^

Anônimo disse...

Gostei muito.
Lembra que a gente tem que tentar reconhecer o valor de cada momento e não só ficar buscando o tempo inteiro o que não se tem; deixando a vida passar...desperdiçando possíveis risadas, encontros, experiências e gostosos silêncios.
Putz, na verdade somos como aqueles malabaristas de sinal de trânsito, trocando as caixinhas de mão, porque tem horas que o que mais precisamos é de "pé descalço no mato" e aí, a caixinha de "inutilidades" é imprescindível.
Marcia

Lucas Cassol Gonçalves disse...

Bofetada na cara.

BAH.

(Palmas!)

Guilherme Sant'Anna disse...

Essa é minha Ingrid ;). Agora é um "Trem Descarrilhado Descendo o Morro": depois que pega velocidade, já era. Boa sorte 'maninha' :P.

Pedro_Salgado disse...

Gostei muito.

Adiciono que o tal sujeito a quem o texto se refere (o que tinha a ideia das caixinhas na mao esquerda e direita) não é uma pessoa muito inteligente. A caixinha da mão esquerda é bem mais útil que a da direita, todos sabem disso.